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A cara de paisagem da direção do PT

Out 07, 2016

Por Bepe Damasco                                                                                        

 

Na tradição dos partidos sociais-democratas e comunistas europeus, uma derrota eleitoral tem como consequência imediata o pedido de afastamento do secretário-geral, responsável maior pela política adotada. Mesmo quando os revezes se dão por pequena margem é comum a renúncia da maior liderança partidária.

E o afastamento não significa julgamento nem condenação, pois o balanço requer um tempo maior do que o de uma ressaca eleitoral. Não se trata, portanto, de imputar acusações a priori de falta de competência ou erros na condução do processo. Ao líder não é atribuída culpa de forma mecânica e precipitada. Mas, na condição de comandante, ele não escapada da responsabilidade.

Abro parênteses : não reivindico como paradigma político a social-democracia europeia, cujo papel central na construção do estado do bem-estar social do pós-guerra foi em boa medida substituído por políticas do receituário neoliberal, apenas com uma roupagem mais humanizada. Fecho parênteses.

Contudo, é impossível não reconhecer como corretas e exemplares práticas como a imediata mudança da cúpula partidária diante de insucessos eleitorais. Escrevo tudo isso para, em solidariedade à militância petista, lamentar a ausência de uma resposta, de uma satisfação proporcional à gravidade do desastre de domingo passado, por parte da direção petista. Renúncia, então, nem pensar.

Cansados, derrotados e estropiados politicamente, os ativistas do PT, reconhecidamente o maior patrimônio que ainda resta ao partido, continuam à espera de uma reação à altura de seus dirigentes, afinal é a sobrevivência do partido que está em jogo. Todavia, a julgar pela resolução política divulgada pela Executiva, depois da reunião da quarta-feira (5), terão de esperar sentados.

Não há reparos a fazer sobre alguns fatores apontados na nota como decisivos para a maior derrota do PT em 36 anos de existência : cerco criminoso da mídia e forte atuação antipetista de instituições do Estado contaminadas pelo golpismo, como Judiciário, MP e PF. O problema insanável do texto reside no trecho em que tangencia uma autocrítica, mas é incapaz de ir além do reconhecimento dos erros cometidos. Só que não diz quais, nem quando nem em que circunstâncias.

Não há mal maior do que a omissão, no momento em que o carro desliza ladeira abaixo e não se avista no horizonte nada que possa detê-lo. Claro que o problema é complexo e que requer tempo para uma discussão mais aprofundada, envolvendo todas as instâncias e a base do partido. O grave nessa história é que a atual direção teima em tratar tempos de guerra como se vivêssemos em tempos de paz.

E isso não vem de hoje. Do mensalão à "boca de urna" da República de Curitiba, passando pelas prisões de petistas, pelo golpe contra a presidenta Dilma e pela caça a Lula, boa parte da direção do PT praticamente se limitou a considerar suficiente enfrentar a mais sórdida campanha de criminalização de um partido que se tem notícia no Brasil através de notas oficiais burocráticas e repetitivas.

Além das forças poderosas que se ergueram para derrubá-lo, justamente por suas qualidades (compromissos populares e defesa da soberania), muito contribuiu para a erosão da imagem do partido a falta de uma política de enfrentamento de seus inimigos e de combate duro e decidido ao antipetismo de viés fascista e totalitário que grassa na sociedade.

Emuladas pela Executiva Nacional, há muito as direções regionais e municipais, prefeitos, governadores, vereadores, deputados e senadores, com o apoio da militância mobilizada, tinham que usar as ruas e os espaços públicos e midiáticos disponíveis para responder à altura ao bombardeio, dizendo claramente para o povo o nome dos sabotadores do projeto democrático-popular e a que interesses servem. Sem isso, os golpistas nadaram de braçada. Para piorar, na boca do povo, a máxima "quem cala consente" se alastrou como rastilho de pólvora.

Já no seu último congresso, realizado em Salvador, em junho de 2015, a maioria da direção sinalizou fortemente sua incapacidade de enxergar o monstro que crescia no horizonte. Em vez de demonstrar alguma sintonia com a conjuntura já absolutamente desfavorável, encontrando uma alternativa para seu viciado processo de escolha das direções, o PED, e apontando saídas econômicas para o país fora do ajuste fiscal de Levy, os caciques petistas optaram por um não Congresso, no qual nada de relevante aconteceu. Se não tivesse acontecido, não faria a menor diferença.

Resumo da ópera : essa direção já deu.

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