Revelando um alarmante descompasso entre a maior crise vivida pelo PT em 36 anos de vida e a necessidade da adoção de medidas excepcionais, tal qual a situação excepcional requer, tudo que maioria da direção petista oferece, no curto prazo, é a realização de um PED (Processo de Eleições Diretas).
Essas eleições elegeriam os delegados ao VI Congresso, possivelmente em março de 2017, e poderiam também eleger a nova direção partidária, dependendo de um acordo para encurtar o mandato dos atuais dirigentes. Entretanto, imaginar que o PED pode servir de solução para alguma coisa é um grave sintoma da enfermidade política que assola a atual direção.
É verdade que o advento do PED em 2005 logrou ampliar o número de filiados ao partido. Mas ao longo do tempo restou evidente que teve efeito contrário em relação ao objetivo pretendido de alargar os horizontes democráticos na vida partidária. Em flagrante distorção de valores, em muitos casos, as chances de determinado candidato a dirigente e de sua chapa passaram a ser diretamente proporcionais à sua "estrutura".
"Estrutura" transformou-se em eufemismo para o financiamento do transporte de filiados, lanche, churrasco e cervejada. Isso para não especular sobre a existência de terrenos mais pantanosos. Nada diferente dos viciados mecanismos de escolha dos partidos burgueses e tradicionais. A política deixou o posto de comando na eleição para as direções do PT, substituída pelo fisiologismo, pelo eleitoralismo, pelo tráfico de influência e pelo poder econômico.
Depois do desastre eleitoral de 2 de outubro, a direção Executiva Nacional, em vez de renunciar e abrir caminho para que uma espécie de junta governativa convocasse a militância, os jovens, as mulheres e os movimentos sociais para a realização do congresso (ou encontro ou plenária, tanto faz) mais aberto da história do partido, resolve recomendar o apoio aos candidatos petistas e de outros partidos de esquerda em sete cidades, no segundo turno, e ponto final.
O intitulado "Muda PT", um agrupamento que reúne as correntes minoritárias do partido está cobrando o imediato início do processo visando o VI Congresso, cujos delegados seriam eleitos através do processo clássico que vigorava antes do PED : núcleos e zonais escolhem a delegação ao encontro municipal, que, por sua vez, elege os delegados para o regional, de cujo encontro, finalmente, saem os delegados nacionais ao Congresso.
O problema é que tem corrente desse bloco ameaçando deixar o partido , caso sua proposta seja recusada pela maioria. Ou até mesmo realizar um encontro paralelo, o quer acaba dando no mesmo. Nos bastidores, alguns parlamentares desse campo já não escondem seu desconforto e falam em abandonar o barco à deriva. Com o PT em ruínas, usar a saída como instrumento de pressão e moeda de troca para emplacar posições não é uma postura que contribua para a sobrevivência do partido, que é, ao fim e ao cabo, o que está em jogo.
Tampouco ajuda na remoção dos escombros, e no debate essencial sobre os erros e a tomada de novos rumos, a conduta do grupo dirigente majoritário, vinculado à corrente CNB ( Construindo um Novo Brasil), que se fecha em copas e, de forma arrogante, age como se a casa não tivesse caído. Dentre os múltiplos e complexos requisitos essenciais à travessia da tempestade, está a permanência nas fileiras partidárias de todos os agrupamentos. Se o impasse atual levar à debandada da minoria, será o fim do partido.
Não só pela perda de militantes e figuras públicas, como pelo sinal de esfacelamento passado à sociedade. Por isso, mais do que nunca é preciso inovar, criando uma nova substância política capaz de colar os cacos e seguir em frente. Desconfio que a autocrítica e a generosidade sejam o princípio ativo desse novo produto.