Primeiramente, o já consagrado Fora Temer. Depois, uma modesta opinião : diante da ferocidade da restauração conservadora, de viés fascista, em curso no Brasil, a esquerda brasileira está condenada a valorizar as convergências na busca de um entendimento.
A unidade de ação é essencial para enfrentar a forte tormenta que não dá sinais de que vá passar tão cedo. Neste sentido, é impossível não abordar de forma crítica a tática eleitoral adotada pelo campanha de Marcelo Freixo, no segundo turno da eleição para a prefeitura do Rio.
Não por caprichos tolos ou movido por estereis tentativas de "acertar as contas", mas porque na raiz da campanha psolista encontramos elementos com potencial para prejudicar a atuação conjunta da esquerda e do campo progressista em defesa da democracia e dos direitos do povo.
Todo militante do PSOL traz na ponta da língua o mantra de que seu partido encarna a "nova política", que chegou para destronar a "velha política" feita à base de compadrio, troca de favores, nepotismo, acordos políticos nebulosos e alianças políticas pragmáticas.
Dia desses um conhecido comentava o quanto esse conceito é frágil. Não existe nem velha nem nova política, mas sim política bem feita ou mal feita. O diabo é que, na avaliação do PSOL, o PT, PCdoB e movimentos sociais ligados a eles fazem parte da velha política e, para evitar o contágio, é desaconselhável qualquer aproximação.
Por isso, o PSOL deu de ombros ao apoio incondicional que o PT, o PCdoB e Jandira Feghali lhe deram no segundo turno. Por isso, nenhuma figura pública desses partidos apareceu programa no de TV de Freixo. Por isso, Lula foi desprezado pelo PSOL, mesmo sabendo que sua presença na Zona Oeste, por exemplo, poderia, no mínimo, impedir uma derrota tão acachapante na região.
Quando Freixo faz questão de não agradecer o apoio desses partidos, nem na televisão nem nos comícios e tampouco no estranho ato realizado na Cinelândia depois da eleição, uma espécie de comemoração da derrota, ele não só expressa a crença infantil de que seu partido detém o o monopólio da ética e da lisura, mas resvala para a grosseria e a falta de civilidade política.
O xis do problema é que o PSOL acredita na eterna pregação da direita, usada ao longo da história para destruir os governos populares, de que o principal chaga brasileira é a corrupção, e não a brutal desigualdade. Então, vamos fazer um exercício : imaginemos um Brasil totalmente livre da praga da corrupção. Ainda assim, com certeza, permaneceriam expostas as feridas sociais do país. Ou seja, o o buraco é bem mais embaixo.
Mas o candidato do PSOL iria além. Até a estátua do Cristo Redentor sabe que ele só chegou ao segundo turno por conta do voto útil petista, que tomou corpo na reta final do primeiro turno. No entanto, Isso não o impediu de dar asas a uma arrogância desmedida ao dizer que foi prejudicado por "tudo de ruim que aconteceu no governo do PT."
Para o PSOL, o PT não é um adversário político, mas sim o principal inimigo a ser batido. Só assim é possível entender a defesa de voto nulo em várias cidades onde o PT media forças com a direita. Em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, o candidato do PT perdeu no segundo turno por 260 votos para um ilustre representante do atraso e da reação. O PSOL, que obtivera 1.440 votos no primeiro turno, se negou a apoiar o petista, optando pelo voto nulo. Não é preciso dizer mais nada.