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Livro conta abusos da mídia na prisão de Genoíno

Jan 06, 2017

Por GGN                                                                                                      

 

“A única coisa que meu pai pediu foi: ‘não se envergonhem, não abaixem a cabeça, e não parem a vida de vocês”. A filha é a pedagoga Miruna; e o pai é o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoíno. A frase foi dita em meio a um dos momentos mais difíceis vividos pela família, que foi a prisão do ex-guerrilheiro, no dia 1º de maio de 2014, a pedido do então presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. 

Meses antes, no dia 15 de novembro de 2013, o STF condenava o ex-presidente do PT a quatro anos e oito meses em regime semiaberto, na Ação Penal 470 (mensalão), num processo que acabou sendo extinto pelo próprio Supremo, em março de 2015, por decisão unânime entre os ministros, que acataram um pedido feito pela defesa, para que ele fosse enquadrado nos requisitos do indulto natalino.  

No livro “Felicidade Fechada”, previsto para ser lançado em março, Miruna reconta a história de como a família enfrentou a prisão e detenção de Genoíno, a maneira como a grande imprensa invadiu a privacidade da casa de classe média, no bairro Butantã, em São Paulo, e a resistência que o ex-presidente do PT transmitiu aos filhos em meio ao turbilhão e linchamento público. 

O lançamento está sendo possível graças uma campanha de financiamento coletivo, que Miruna abriu na internet para arrecadar recursos em três meses. A meta foi alcançada em apenas nove dias. A obra foi composta com as cartas trocadas com o pai, e o título foi inspirado pela neta de Genoíno e filha de Miruna, Paula, quando disse à mãe que o avô era a felicidade da família, naquele instante encarcerada no Complexo Penitenciário da Papuda - Distrito Federal.  

“Foi muito difícil, não só pela angústia [dias antes da prisão], mas principalmente por conta da mídia. O que conto no livro é o quanto a mídia é muito perversa quando deseja crucificar alguém. Eles acamparam na frente da nossa casa, o portão era até vazado, então a gente tinha que fechar as cortinas. Eu tenho dois filhos pequenos, e pedia para eles não gravarem as crianças. Eles falavam: ‘não, a gente não vai publicar, porque eles são menores de idade, mas a gente vai gravar’”. 

O desespero da família se aprofundou após Joaquim Barbosa determinar a prisão de Genoíno. Miruna relembra que a imprensa ficou sabendo da decisão antes mesmo do advogado da família, no dia 13 de novembro. “Até que no dia 15 chegou para nós a notícia oficial”. 

Outro agravante era o estado de saúde. Em 2013 o ex-presidente do PT havia se submetido a uma cirurgia delicada, dissecção da aorta. “É a cirurgia mais séria dentro da cardiologia, ele tinha 10% de chance de sobreviver”. Mesmo com todos os laudos médicos do Hospital Sírio Libanês comprovando a fragilidade do estado de recuperação, Joaquim Barbosa manteve a prisão.

“Foi uma situação de muito desespero, no momento em que eles vão leva-lo. E o meu irmão, que tem uma cabeça muito mais racional, consegue parar e pegar os remédios do meu pai, que eram muitos, e anotar num papel. Quem já tomou, sabe que esses remédios são muito complicados, qualquer coisa altera a coagulação sanguínea, e foi o que aconteceu na Papuda, porque eles não davam uma alimentação correta e o índice dele foi chegando em níveis alarmantes”.

Miruna conta que o médico pessoal de Genoíno não tinha acesso livre na Papuda e que o pai foi acompanhado por um detento que tinha formação em enfermagem. “Serei sempre grata a ele”. Nesse momento, mais uma vez a imprensa mostrou seu lado desumano reforçando o sensacionalismo enquanto o quadro clínico do ex-presidente do PT piorava. Enquanto a família tentava entrar no complexo penitenciário, para saber o estado de saúde dele, veículos de comunicação divulgavam que estavam tentando furar o bloqueio das visitas, entrevistando familiares de outros presos. 

Larissa Feitosa, gerente de Saúde Prisional do Distrito Federal, e enteada do ministro do STF Gilmar Mendes, interferiu solicitando o encaminhamento urgente de Genoíno ao hospital, negado pela Vara de Execuções Penais. Foi então que Larissa fez o inesperado: saiu da Papuda carregando Genoíno clandestinamente.

No hospital os médicos confirmaram a gravidade do caso. “Ele estava com o sangue que eles chamam de superfino. Se ele fizesse o mínimo de corte corria o risco de ter uma hemorragia”, relembra a filha. 

Naquele instante a esperança da família era de que a Justiça concedesse prisão domiciliar, mas o Supremo determinou a reclusão domiciliar por apenas um mês, mesmo com os laudos médicos. “Ali eu tive uma grande crise dentro do hospital e disse ‘eles estão querendo matar meu pai’”. 

Como se não bastasse, Joaquim Barbosa solicitou laudos de uma nova junta médica. O ministro do Supremo, aliás, foi a figura que ficou mais à frente de todo o processo. 

“Uma coisa muito importante que meu pai fala para nós é que devemos evitar a fulamização. Porque a gente sabe que ele [Joaquim Barbosa] tomou a frente, mas tinha muita gente por trás, alimentados fortemente pela mídia, por esse circo de tornar um juiz pop star, e que a gente está vendo nos dias de hoje no que pode dar. Todo mundo está gostando desse lugar”.

Mídia

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