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Se 2018 existir, corre o risco de ser cinza

Jan 28, 2017

Por GGN                                                                                                                                                                                                   

Conheci a Solange Teixeira Hernandez, a famosa “Dama da Tesoura”, com quem trabalhei por dez anos na Corregedoria da Polícia Federal, em São Paulo. Quando censora, não havia um programa de televisão ou sessão de cinema que não exibisse um certificado de prévia aprovação, no qual constava obrigatoriamente sua assinatura. Ao trabalharmos juntos, tínhamos o mesmo foco e nunca travamos embate sobre nossas diferenças políticas.

Certa feita, porém, numa hora de descontração, perguntei à já falecida colega, como se sentia quando acusada de haver censurado mais de cinco mil obras de arte? E ela respondeu: “Meu amigo, um dos primeiros e principais problemas é pensar que aquilo tudo era arte”. Ao chegar em casa e comentar o diálogo com minha hoje falecida esposa, enfurecida questionou: “E quem é ela para dizer o que é ou não é arte?”. Confesso que me incomodou o contraponto de minha mulher, pois fique a pensar o que é arte...

O assunto arte comporta muitas leituras e subjetividades e já não me atrevo pensar o que é ou não é arte, isto por que até mentir e ou falar a verdade também seria uma forma de arte. A TV Globo, por exemplo, quando conseguiu reunir milhares de patos vestidos de verde-amarelo nas Paulistas e Copacabanas da vida, não deixa de ser uma arte, ainda que revestida de funesta artimanha. Se Sérgio Moro de um lado decretou o fim dos cursos de Direito, os Marinhos cumpriram sua parte nos cursos de Jornalismo. Hoje, não dá mais para saber o que é Direito nem Jornalismo, quiçá arte...

O prefeito de São Paulo, que em curto tempo adquiriu apelidos como João Dólar, João Doriana ou João Margarina, parece mais alinhado com a afirmação de Solange Teixeira (ex-Hernadez). Ele foi além da Dama da Tesoura. Ela, pelo menos, tinha em sua defesa o dever de seguir o manual imposto pelos vendidos, covardes e entreguistas militares: o que vir assinado por Chico Buarque rejeita. Se aparecer palavras como sexo, droga, rock and holl, reforma agrária, cidadania, fome, greve... corta tudo. Se não o fizesse, poderia ser punida. Se deixasse o cargo também, pois “quem não estava conosco estava contra ‘nosco’”. E ele?

O tal prefeito, que ainda não se vestiu de Haddad para começar a “prefeitar”, decidiu dizer o que é e não é arte. Ele, que desde a posse fez da troca de figurino um ridículo marketing pessoal, travestiu-se de Mohammed Omar, o líder talibã que mandou destruir várias obras de arteno Afeganistão, algumas delas do século V. Igual fim teve a maior estátua de Buda em pé. “É um caso grave de extremismo. A religião cegou a inteligência desses dirigentes", disse um representante da UNESCO ao perder a batalha pela preservação dos monumentos. Mas, quem cegou o prefeito?

A onda de ódio instaurada pelo coronelismo eletrônico está entre os alicerces da ruptura democrática do País. Sem fomentar o ódio gratuito, o espírito de beligerância, o eixo invisível do golpe perderia consistência. Consumado o golpe, mais ainda não superada a fase do deboche e do escárnio aos expropriados das urnas, o prefeito margarina ainda não aplacou seu furor. Num ato vingativo, violento e insólito resolveu apagar grafites que dão cor a São Paulo. Foi objeto de gracejos nas redes sociais e os mais criativos o virtualizaram apagando anjos da Capela Cistina (Vaticano), descolorindo o arco-íris...

É como se não tivesse sido bastante ser fotografado ao lado de um juiz-vedete às vésperas das eleições. É como se imprimir uma máscara metade juiz metade ele, para ser usada no dia das eleições, não configurasse boca de urna tolerada pelas polícias. É como se não fosse bastante a destruição de lixeiras em algumas praças e outras trapaças, para sugerir o abandono da cidade. É como se tivesse sido pouco os métodos baixos utilizados pela mídia para destruir o ex-prefeito. É como se todo esse lado eleitoral cinzento, antes em sentido figurado, precisasse agora ser materializado. Difícil analisar a postura de um ser que precisa de um fundo cinza para aparecer.

Se a Polícia Federal cumprir o seu papel constitucional, o que é improvável, o tucanato ficará órfão de nomes para 2018, se 2018 existir. E aí, São Paulo, que já dita as regras dos presídios nacionais, poderá ditar um possível horizonte cinzento. Nenhuma importância teria o que pensou ou pensaria sobre arte, Dona Solange e o prefeito margarina.

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