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Um Brasil pós-Temer, uma tragédia nacional

Abr 14, 2017

Por César Cardoso, no GGN                                      


Todos os animais, inclusive os humanos, são dotados de instinto de sobrevivência; sem ele, rapidamente perecerão nas garras de algum predador. E é este instinto de sobrevivência que, por exemplo, torna os animais, quando acuados, ainda mais agressivos e atacantes.

Políticos são humanos, humanos são animais, e portanto políticos devem ter um aguçado instinto de sobrevivência; sem ele, não sobreviverão até a próxima eleição. No fundo, todas as suas ações de ataque – reformas de sistemas políticos, conspirações, golpes de Estado – são porque, em algum momento, o instinto de sobrevivência determinou que eles estavam acuados, sob risco de serem capturados por algum predador.

Daí começamos a entender o Grande Acordo Nacional, conforme ouvido nos áudios de Sérgio Machado e Romero Jucá.

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A Constituição de 1988, em termos políticos, foi pensada e nasceu dentro do viés parlamentarista; José Sarney, já à época das discussões sobre o capítulo, era um presidente enfraquecido, e concentrou todas as suas forças em apenas tirar a figura do primeiro-ministro da Carta. Com isso, e mais as sucessivas limitações à edição e prorrogação de medidas provisórias, gerou o presidencialismo de coalizão brasileiro, onde a única força do presidente é nomear cargos comissionados. E o presidencialismo de coalizão, aliado a um método de preenchimento de cadeiras na Câmara que inviabiliza qualquer partido ter maioria, garantiu que dependeria do Legislativo qualquer governabilidade. O sistema começou titubeante, teve seu teste de fogo quando retirou Collor e colocou Itamar e a partir daí veio mais ou menos sem percalços, passando de escândalo em escândalo, até 2015.

Em 2015, o avanço da Lava-Jato deixou claro para um grande grupo de políticos que a presidenta Dilma, por não querer barrar a investigação, havia se tornado um risco sistêmico; era necessário retirá-la, e por causa deste quase-consenso no mundo político o golpeachment foi transcorrido praticamente sem tropeços. Assumido o poder, a tentativa do núcleo duro do novo presidente foi tentar voltar ao business as usual; uma agenda ultraliberal nos primeiros meses, aproveitando a janela da Doutrina do Choque, para deixar o rentismo satisfeito e poder voltar à situação anterior bem antes de 2018. E foi assim que passou a infame PEC da Morte.

No entanto, as dificuldades para imposição da agenda e o estado débil da economia começaram a minar a aliança entre o mundo político e o rentismo+corporações estatais+mídia; quando ficou claro que a aliança ruiria, o mundo político, passou a atacar publicamente (papel de Gilmar Mendes) e a tentar colocar obstáculos intransponíveis à Lava-Jato; além disso, começou a dizer claramente à presidência que, sem a volta dos bons e velhos “carinhos” - cargos, propaganda estatal em suas rádios e TVs etc etc – não passaria o resto da agenda rentista, particularmente a privatização da previdência social.

Ao notarem que estava sendo tramado às claras um futuro sem o protagonismo deles, as corporações estatais partiram para o ataque de destruição.

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O Brasil que o Grande Acordo Nacional quer reconstruir, fica fácil de entender, não é politicamente muito diferente do Brasil que existia antes de 2015. Certamente vai incluir limites às ações das corporações estatais, certamente vai incluir algum ataque e desestímulo à organização popular para que voltemos aos tempos do clientelismo como norma na relação político-eleitor, até acredito que vão assumir o parlamentarismo. Mas o centro da ideia, do predomínio dos pequenos grupos no Legislativo, continuará… afinal, qualquer mudança piorará a situação da classe política.

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Na parte 3, “whoever wins… we lose”

 

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