O Globo hoje dá capa para mais uma discurseira contra o “gigantismo do Estado”, afirmando que “um terço do país sobrevive da folha estatal“.
Para chegar a este número, de 60 milhões de brasileiros, vale-se da inclusão marota dos aposentados da iniciativa privada – 33 milhões – que, em tese, recebem de um fundo sustentado por eles próprios, não por impostos.
E lá vão beneficiários do Bolsa-Família, portadores de deficiências, até pescadores que recebem o seguro-defeso nas épocas em que a pesca é proibida.
Tudo para sustentar duas teses: a de que gastamos demais com aposentadorias e a de que temos um Estado inchado de funcionários.
A esta, a melhor resposta é um quadro comparativo da quantidade de funcionários públicos sobre o total de trabalhadores do país, publicada em outubro de 2014 pela Época, que desmonta tal tese, porque o número de servidores no país, em todas as esferas, é menor do que na maioria dos países ditos “modernos” e “eficientes”.
A matéria admite isso, mas alega que nossa folha é cara demais, o que é verdade, embora não se diga que é assim porque temos castas de servidores, sobretudo no Judiciário e no Legislativo , que são remuneradas em padrões incompatíveis com a realidade brasileira.
Juízes, promotores, auditores e outros, entretanto, são apontados pela mesma mídia como as esperanças de saneamento do Estado brasileiro, não é?
Para quem duvida, é bom citar reportagem da agência alemã Deutsche Welle, que mostra o quadro de privilégio destas castas !meritocráticas”:
O Poder Judiciário totaliza cerca de 16.500 magistrados, o equivalente a 8,2 juízes por 100 mil habitantes. A cifra é superior a países como Inglaterra (3,8), Chile (5) e Venezuela (6,8); ligeiramente inferior a de nações como Colômbia (10,4), Itália (10,6), EUA (10,8), Espanha (11,2) e Argentina (11,4); e significativamente abaixo de Portugal (19,2) e Alemanha (24,7). Ou seja: a quantidade de juízes não seria o problema.
Os salários dos magistrados no país, porém, são altos se comparados aos de outros países. Segundo a pesquisa, um juiz alemão em início de carreira ganha 1,22 do PIB per capita e 3,11 no fim da carreira. Já no Brasil, o juiz federal recebe, respectivamente, 13,1 e 16 do PIB per capita, além de contar com os adicionais como auxílio moradia. O caso mais próximo do brasileiro é o italiano. No país europeu, um juiz no início de carreira recebe 2,3 do PIB per capita e, no fim da magistratura, 6,7.
O problema é que atacar estes privilégios é ser cúmplice do desvio de dinheiro público, quando deveria ser justamente o contrário.