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É preciso colocar a bola no meio e recomeçar

Mai 19, 2017

Por Fernando Brito, no Tijolaço                                                                        

 

O craque Didi, estrela do Brasil na Copa de 1958, tanto quanto por sua “folha seca” mortal, em que a bola, como mágica, “descaia” em direção ao gol, ficou eternizado por sua atitude na final, quando um gol dos adversários suecos gelou o time até ali favorito. Valdir Pereira pegou a bola no fundo do gol, colocou-a na palma da mão e, a passos firmes e olhar fixo, levou-a ao círculo central. O jogo recomeçaria, mas totalmente diferente.

Os pretensiosos da vida brasileira,  que só conseguem fazer os cálculos políticos a fuçar, como porcos, as imundícies da política – tão imunda quanto os bastidores do futebol – não compreendem que, depois de tantos gols contra, este país precisa de um recomeço, de um novo jogo que permita que o país vá voltando a ser, daqui para a frente, um time diferente e não a mesma crise que, faz  mais de três anos, somos.

Para isso, não há outra forma senão eleições diretas, que legitimem alguém para fazer este papel, que não se desempenhará sem a unção da vontade da maioria da população.

Os que vivem, depois de darem um golpe, agarrados ao cumprimento burocrático da Constituição, alegando que estando lá previsto que serão indiretas as eleições no segundo biênio de um mandato ao qual venham faltar tanto o presidente quanto o vice, marotamente esquecem que, bem antes, está dito que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”

Diante da inevitável saída de Michel Temer – ainda no cargo porque em lugar de neurônios, tem garras – não há outro caminho. Alegar que é casuísmo mudar a Constituição para termos diretas é um contrassenso, ainda mais vindo daqueles que querem mudar a lei, porque a atual, que exige prazos de filiação e de desincompatilização, em termos práticos, retira dois terços das figuras políticas que ainda restam das condições de elegibilidade.

Do contrário, o que se achará será um boneco, talvez de imagem respeitável – cláusula, hoje, excludente da maioria – para assistir, como rainha da Inglaterra, o país se afundar na conflagração e no ódio.

Eleições, eleições livres, já, para que ainda tenhamos chance de fugir de um massacre, para que possamos ser o Brasil que fez 5 a 2 na Suécia e não o que tomou de 7 a um da Alemanha, paralisado como pateta em campo.

Adiar esta escolha, à espera que Sérgio Moro cumpra seu tortuoso papel de condenar Lula, simplesmente porque ele é favorito nas pesquisas, isto sim é negar a soberania popular e condenar o país a seguir nesta trilha de Simão Bacamarte, d’O Alienista, com um insano “prendam todos” que, francamente, só pode satisfazer mentes primárias.

Ou muito cínicas.

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