Michel Temer aos correspondentes estrangeiros, chamou a crise política de “desafios acidentais”. Há certo gosto pela palavra acidente, que ele já usou ao classificar como “acidente pavoroso” o massacre de presidiários.
Fernando Henrique, duas vezes presidente por eleição direta, enrola-se naquilo que seu primeiro-amigo e sócio, Sergio Motta, chamava de “masturbação sociológica“.
O mercado das delações, com a dolce vita concedida aos Batista – que continuarão, aliás, sendo bilionários sem a empresa, que será, como eles mesmos planejavam, internacionalizada ou, para ficarmos na linguagem de açougue, “porcionada”- segue em alta temperatura, na base do “dede um e leve dois”.
O outro mercado, o financeiro, apóia a queda de juros que não caem, porque a inflação baixa, arrastada pela brutal recessão do país, num país que “subvive”, com uma legião de 14,2 milhões de desempregados.
A política passou a ser dos novos “grandes partidos”, o PPF (Partido da Polícia Federal), o PMP, do Ministério Público, e do PSTF, que teme ser dominado pelo gilmarismo. O Partido de Curitiba, que já teve dias melhores, serve agora apenas para perseguir Lula e acalmar Cunha.
E assim viramos uma república carnavalesca, sem rumo, embriagada pelos escândalos, fantasiada de moralismo e correndo o risco de levar umas borrachadas do guarda Bolsonaro e suas agressivas milícias.
Os fracos espasmos de lucidez, que pedem uma eleição que reorganize o país pela vontade popular – no instante em que não se tem mais líderes por ela legitimados – são chamados por essa gente de “golpismo”, porque exigem emendar a Constituição, o que, claro, só é admissível para restabelecer a escravidão.
Um país imenso, rico, com uma população imensa condenada ao atraso e à brutalidade está dedicado a bisbilhotar, grampear, delatar.
Quase dá para ouvir a voz da Elis Regina, cantando para nossas elites políticas e econômicas: o Brasil não merece o Brasil…
Pensando melhor, antes vinha: “Do Brasil, S.O.S. ao Brasil”.