O axioma sobre a democracia como valor universal faria algum sentido se a burguesia também tivesse esse compromisso que parte da esquerda propõe às classes trabalhadoras.
O problema é que seria uma aberração política, um verdadeiro suicídio, se as regras tradicionais da democracia liberal fossem mantidas quando as classes dominantes decidem-se pelo golpe, a sabotagem e a reação violenta contra a soberania popular.
Nessas situações, não há outro caminho, ao fim e ao cabo, que não seja garantir instrumentos democráticos para as camadas populares se organizarem e se expressarem, mas sem ter medo ou vacilação de responder com a ditadura democrática do povo contra o levante oligárquico-burguês, retirando todas as liberdades e direitos de quem aposta na insurgência reacionária.
Essa é a história que nos ensinam todas as revoluções vitoriosas.
A francesa, quando o rei foge para provocar uma sublevação restauradora da nobreza e do clero, respondida pelo terror jacobino.
A russa, com a dissolução da Assembleia Constituinte que se voltava contra o poder soviético, para não falar da repressão ao levante anarquista em Kronstadt, liderada por Trotsky.
A cubana, com o fuzilamento dos agentes da ditadura batistiana e os contra-revolucionários a soldo dos Estados Unidos.
A chinesa, com a ordem expressa de enfrentamento à rebelião anticomunista em Tianamen (1989).
O mesmo se passa agora na Venezuela.
A Assembleia Constituinte é o espaço democrático e soberano para o povo decidir livremente seu caminho e o destino do país.
Mas se as elites continuarem em sua política de sabotagem e terror contra a revolução bolivariana, nenhum direito democrático lhes deve ser garantido, salvo o de um julgamento justo a seus agentes criminosos.
Se por democracia como valor universal entende-se a preservação de regras republicanas para todos, mesmo para as classes e partidos que rompem com a soberania popular, nenhum acordo a esse respeito pode ter quem legitimamente defende o ponto de vista da classe trabalhadora, da revolução e do socialismo.