Os deputados governistas não negam ou sequer empenham respostas para as acusações de votos comprados em nome do enterro da denúncia contra Michel Temer na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (02). As transmissões ao vivo de diversos jornais, incluindo a própria EBC (Empresa Brasil de Comunicação), informavam as articulações dentro da própria sessão que se estendeu pela noite para o presidente somar, voto a voto, a sua salvação.
Antes disso, noticiários contabilizavam o preço que o país estava pagando para se chegar ao resultado de 263 votos a favor de Michel Temer, arquivando o processo e impedindo que a denúncia seja sequer investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Pelo menos R$ 17 bilhões, previu o jornalista Jean-Philip Struck, do Deutsche Welle (DW) Brasil.
O montante foi "investido" na liberação de emendas parlamentares a aliados, criação de cargos comissionados e nomeações, em pleno cenário de crise econômica brasileira, contradição evidente na rigidez com que o mesmo mandatário conduz o país, com as reformas, contingências em educação, saúde, órgãos de investigação, e o aumento de impostos para a população, como o dos combustíveis.
A reação não veio dos parlamentares aliados, que sequer dedicaram a se justificar. Mas da oposição, que duramente criticou o governo e as negociações do presidente para a compra de aliados, e de representantes da sociedade civil. "O dinheiro, na visão desses deputados, conta mais do que a opinião pública para o seu regresso à Câmara dos Deputados no ano que vem", manifestou um dos autores da Lei da Filha Limpa, Márlon Reis.
Em entrevista ao UOL, o advogado expôs a lógica feita pelos parlamentares: "Os deputados pesaram duas situações, considerando qual seria a mais importante para a sua reeleição no ano que vem: De um lado, estava a grande impopularidade de votar na manutenção do presidente Temer na Presidência. De outro, o lado que preponderou, leva em conta a importância das emendas parlamentares, do dinheiro deslocado pelos deputados para suas bases para a reeleição."
E o resultado, como se pode verificar, foi o segundo: "Diante dessa dúvida, eles consideraram que era mais efetivo receber as emendas, o dinheiro", completou. E a popularidade, tanto de Temer, quanto desses deputados, realmente estava em jogo.
De acordo com pesquisa feita pelo Ibope, na última segunda-feira (31), 81% da população ouvida era a favor da abertura do processo por corrupção passiva contra Michel Temer no Supremo. E para 79% dos consultados, "o deputado que votar contra a denúncia é cúmplice de corrupção". Outros significantes 73% também analisaram que este parlamentar que enterrasse a denúncia não merecia ser reeleito em 2018.
Por isso, foi necessário um grande esforço empenhado por Temer e por sua cúpula de governo para garantir a conclusão de seu mandato. O governo chegou a preparar cartilhas, que foram distribuídas durante a sessão, com sugestões de justificativas e discursos dos deputados que o apoiassem. As frases miravam, basicamente, no teor de que manter Temer era manter as reformas que o país necessitaria.
Da mesma forma, a ONG Transparência Internacional criticou e escancarou o esquema montado pelo presidente para o resultado desta quarta-feira. "Foi um ataque frontal à Lava Jato e a tudo o que ela representa, que é nada menos do que a esperança do povo brasileiro de que finalmente a gente estava virando a página, começando a mudar a nossa história de impunidade absoluta de crimes de corrupção", defendeu o representante da ONG, Bruno Brandão.
"O resultado da votação na Câmara revela que não existe horizonte para a luta contra a corrupção no longo prazo. Ela não vai perseverar, não vai prosperar enquanto não houver uma profunda reforma do nosso sistema político. Isso ficou muito claro", continuou o economista, à reportagem do Uol.