Às vésperas da Oktoberfest, a cidade de Blumenau (SC) viu cartazes colados em postes com a seguinte mensagem: “Negro, comunista, antifa e macumbeiro, estamos de olho em você”. A imagem ameaçadora traz um encapuzado da Ku Klux Klan.
Um advogado, Marco Antonio André, teve os cartazes colados na porta de sua casa. Marco Antonio é negro e segue o Candomblé. Ele reagiu nas redes sociais: “Continuarei na minha luta por uma sociedade justa e igualitária. Farei, agora mais do que nunca, parte da Comissão da Verdade pois em Blumenau há muitas histórias que não foram contadas”, postou no Facebook.
O histórico de Blumenau não é dos melhores, mas desde 2014 os nazistas de lá andam mais atrevidos. A prática de afixar os chamados ‘lambes’ nos postes também. Naquele ano, um grupo denominado White Front colou diversos cartazes com o rosto de Adolf Hitler pela cidade.
Pelo menos dois de seus integrantes foram identificados porque não se preocuparam nem mesmo com suas postagens de apologia ao nazismo em redes sociais. Kaleb Rodrigo Frutuoso e Fabiano Antônio Schmitz foram presos.
É de Blumenau também o cidadão Wander Pugliesi. Professor de história (veja você a ironia), é ele o proprietário da famosa piscina que tem uma suástica estampada no fundo cuja imagem foi captada ao acaso em um sobrevoo e depois viralizou.
Adorador de Hitler, deu o nome de Adolf a seu filho. Faz apologia ao nazismo sem medo de ser feliz, odeia os filmes sobre o período da Segunda Guerra (considera-os mentirosos) e sua casa é praticamente um museu nazista. Objetos, livros, bandeiras, pôsteres do Fürher.
Entre as duas guerras mundiais, os imigrantes alemães vindos para cá concentraram-se no sul. Claro que nem todos eram adeptos ou simpatizantes do nazismo. Mas há que se levar em conta que o maior partido nazista fora da Alemanha pouco antes do início da Segunda Guerra ficava no Brasil.
O partido nunca foi registrado na justiça eleitoral brasileira, mas funcionou durante 10 anos, de 1928 a 1938. E Santa Catarina era o estado com o segundo maior número de nazistas. Daí compreende-se um pouco melhor a volta dessa bactéria letal. Ali é um de seus habitats.
Retornando ao ‘professor’ dono da piscina, Wander Pugliesi, ele é atuante na apologia nazista desde 1994 pelo menos. São 23 anos de dedicação a propagar a filosofia e captar adeptos. Não era de se prever que alguns frutos nasceriam?
Não é portanto de se estranhar essa Gestapo blumenauense que anda colando cartazes de cunho racista, xenófobo e higienista.
Hannah Arendt considerava os nazistas como pessoas ‘vazias de pensamento’. Primeiramente acredito que alguém que deseje eliminar – físicamente até – ‘o outro’ não está vazio e sim cheio de ódio. E está pensando nisso noite e dia.
Em segundo lugar, sou mais propenso a concordar com o filósofo Pablo Ortellado que considera altamente perigoso essa postura de considerar alguém como Jair Bolsonaro como intelectualmente limitado, uma aberração inofensiva, de alcance pouco expansivo.
Não apenas os índices de aceitação a candidatos como ele vêm subindo como o mundo inteiro tem dado mostras de que a extrema direita vem ganhando campo. O porque disso não caiba num espaço menor que um livro por isso não irei me alongar aqui. Mas é fato. O berço do nazismo, a Alemanha, terá que lidar a partir de agora como nada menos que 94 deputados da AfD no parlamento.
Aquela turma que prega “Devolveremos a Alemanha aos alemães”. É a primeira vez desde o final da Segunda Guerra que um partido de extrema direita consegue chegar ao Parlamento alemão. Vem estrago por aí.
Os ecos desta onda retrógrada mundial estão por aqui. No crescimento vertiginoso das bancadas da bala, do boi e da bíblia, nos projetos como o Escola sem Partido, nos planos de militarização das escolas, na censura a exposições e peças de teatro.
“Estamos contando demais que sua incapacidade intelectual, sua deficiência programática, seu isolamento político e que as regras do jogo eleitoral vão dar conta de enterrar sua candidatura”, declarou Pablo Ortellado em relação a Bolsonaro. Mas o alerta serve para todos.
Blumenau não é uma província exótica situada no meio do nada. Ela retrata o perigo que estamos correndo se esse mal não for combatido.