O que impressiona no Brasil pós Golpe não é apenas o cinismo daqueles que o promoveram, mas também a capacidade que esses atores tem em não querer consertar a cagada que fizeram, mesmo estando afundando do mesmo barco que ajudaram a destruir.
A célebre frase de Pablo Neruda, “Você é livre para suas escolhas mas é prisioneiro de suas consequências” nunca foi tão bem ilustrada. Entretanto, nesse caso específico, a situação piora um bocado, afinal, as más escolhas são feitas por pessoas que concentram enorme quantidade de poder e, consequentemente, toda a população é feita prisioneira desses erros.
É o caso emblemático do STF, e da maneira como a suprema corte não consegue, sequer, fazer cumprir o básico da Constituição. Bom, é sabido que há um acordo com “Supremo, com tudo” e, assim, não surpreende ninguém que o grau mais alto do judiciário se comporte de maneira tão incoerente – e rasteira, devido a sua importância.
O que Gilmar Mendes fez, por exemplo, afastando Lula do ministério da Casa Civil da Dilma e permitindo que Moreira Franco fosse nomeado é uma prova cabal de como o STF não é um órgão de Estado, mas sim uma ferramenta de Governo.
Não se pode deixar de citar, ainda, a diferença gritante entre a postura autoritária que a corte assumiu com políticos “moribundos” como Delcídio Amaral e Eduardo Cunha e o republicanismo “amigos do Rei” que a maioria do STF tem com “inimigos” poderosos, como o presidente afastado do PSDB senador Aécio Neves.
O judiciário de último grau do país que se comporta como uma criança mimada – dá doce para os amiguinhos e língua e bulling para e os desafetos – não pode sequer ser levado a sério, quiçá ser considerado uma instituição republicana.
Assim, Lula não poderia estar mais correto em sua avaliação (o Barbudinho é fora de série) sobre a covardia desse supremo que, guardião de uma Constituição construída com o sangue dos heróis e heroínas que lutaram contra a ditadura, não poderia se dar ao luxo de se acovardar tão vergonhosamente.
Um STF que tem medo da mídia, do legislativo e de si mesmo, não pode ser chamado de Supremo, como bem colocou o genial Fernando Britto.
Covardes não mudam o status quo, não revolucionam e sequer evoluem. Vivem impedindo qualquer tipo de mudança que ameace suas vidinhas medíocres, banhadas de privilégios supérfluos em mimos bajuladores.
E considerando que o status quo brasileiro é a miséria, a desigualdade, a injustiça e acúmulo de riquezas, não poderia haver afirmação mais suprema: “Temos um STF totalmente acovardado”.