A Folha deu ontem com muito destaque online, hoje com menos na edição impressa, a informação de que “um quarto do Congresso Nacional vota defendendo Estado maior”. A pesquisa é atribuída ao Ranking dos Políticos, descrito como “organização civil que monitora o desempenho parlamentar”.
Graças a uma dica de Michel Costa, fui olhar o que é o tal Ranking. A “organização civil” que a Folha procurou é, na verdade, um braço da extrema-direita, liderado por um “conselho estratégico” de cinco membros que inclui Rogerio Chequer (o pretenso empresário que se projetou ao inventar o movimento golpista Vem Pra Rua) e assessorado por um “conselho de avaliação de leis” cuja estrela mais reluzente é Gustavo Franco, o ultraliberal fundamentalista.
O principal esforço é estabelecer, sim, um ranqueamento dos “melhores parlamentares”, em cuja pole-position está ninguém menos que a notória senadora gaúcha Ana Amélia. A nota do ranking inclui citação em processos judiciais, assiduidade em plenário e uso das verbas indenizatórias, mas o principal é a “qualidade legislativa”. Quem se interessa em entender como chegam a essa nota, percebe que é simples: para ser bem avaliado, o parlamentar deve tanto abraçar a bandeira convencional do combate à corrupção quanto apoiar os retrocessos do governo golpista. Ser a favor do fim da CLT, por exemplo, vale 20 pontos.
É uma daquelas manobras safadas, que querem transmitir a ideia de que uma atuação parlamentar é “boa” ou “ruim” por si mesma, não segundo os interesses que defende. O fato é que, ao usar, para produzir suas matérias, uma organização sem tradição, sem credibilidade e sem importância, cuja única credencial é seu alinhamento à direita extremada, a Folha apenas escancara uma vez mais qual o sentido de sua presença no debate público brasileiro.
Luís Felipe Miguel é Professor de Ciência Política na na Universidade Federal de Brasília (UNB).