Em 2013 se desenhava com nitidez no horizonte a desgraça que se abateria sobre o Brasil. Fazer o que se parte da esquerda teimou em enxergar tintas progressistas em um megamovimento de cunho fascista?
Desde o primeiro dia de seu segundo mandato, a presidenta Dilma teve seu governo sabotado não só pelo bandido Cunha, na Câmara dos Deputados, mas também por um festival de vazamentos seletivos e delações, num cerco protagonizado pelos próprios poderes da República e pela mídia. Fazer o que se o governo e boa parte do PT insistiram em tratar tempos de guerra como se fossem tempos de paz?
Mesmo depois do grampo criminoso de uma conversa entre a então presidenta e seu antecessor, e da ampla divulgação de contatos de caráter pessoal de Lula, continuamos gritando em praça pública o mantra “Não vai ter golpe, vai ter luta.” Fazer o que se não subimos o tom da resistência diante do avanço avassalador do tropel golpista?
A realização de um sem número de passeatas, com um ponto fora da curva que foi a vitoriosa greve de 28 de abril de 2017, não impediu que o rolo compressor do governo ilegítimo liquidasse direitos históricos da classe trabalhadora e entregasse as nossas riquezas estratégicas aos capitalistas estrangeiros.
A mobilização de centenas de milhares pessoas país afora também não logrou evitar o congelamento dos gastos sociais por 20 anos, o fim do regime de partilha do pré-sal e da política de conteúdo nacional, a terceirização irrestrita, o aviltamento do salário mínimo, a contrarreforma trabalhista, a destruição do setor de engenharia, óleo e gás, dentre tantos outros retrocessos brutais.
Agora, a caçada infame a Lula resultou na farsa de sua condenação sem crime pela ditadura judicial-midiática. Precisamos parar com essa bobagem de dizer que “setores do Judiciário e do Ministério Público” estão corrompidos e traíram sua funções republicanas. Existem exceções, mas as instituições estão comprometidas até a medula com o golpe, e por isso apodreceram.
Não há mais espaço para ilusões. Todos os recursos apresentados pela brilhante defesa do ex-presidente Lula serão negados, porque Lula, enquanto viver, será a maior ameaça aos verdugos da democracia e algozes da soberania popular. E apenas com a realização de passeatas, comícios e mobilizações convencionais, o chamado mais do mesmo, não acenderemos a centelha da revolta capaz de derrubar a ditadura.
Claro que a ocupação crescente nas ruas é essencial. Mas, que diabos, será que o estoque de modalidades de ações de luta da esquerda brasileira (repleta de conquistas, histórias heroicas, de mártires e heróis do povo ) se resume a isso?
Não é possível que suas lideranças não tenham percebido a ineficácia de sua tática até aqui. Embora seja importante reconhecer o mérito da esquerda no avanço da consciência crítica em relação ao golpe e no reconhecimento do lawfare sofrido por Lula, chegou a hora dar um passo à frente.
Longe de mim a arrogância de propor fórmulas prontas e acabadas. Também a porralouquice aventureira deve ser a todo custo evitada. Com tantas forças poderosas contra nós, inclusive todo o aparato repressivo, os movimentos sociais e os patriotas é que pagariam o pato.
O baixo nível de mobilização e de politização do povo, porém, não pode servir de desculpa para a inércia. Sim, porque esse elemento da realidade só se transformará em barreira intransponível caso as vanguardas sociais e políticas se furtem ao debate claro e responsável com a população sobre a necessidade da adoção de táticas inovadoras e extremadas de luta.
Greves, ocupações e desobediência civil certamente fariam o enfrentamento mudar de patamar. Contudo, ante a constatação de que vivemos sob uma ditadura judicial-midiática, não cabe o aprofundamento desse debate por aqui, num texto aberto e público. Não podemos dar mole aos inimigos. Mas lembro que até a ONU reconhece o direito à sublevação contra governos opressores e ilegítimos.