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O artigo de Huck é um pastel de vento

Fev 18, 2018

 Por Fernando Brito                                                                                

Leia-se ou não o artigo de Luciano Huck, na Folha, hoje, para “explicar” porque não é (mais) candidato a Presidente da República o efeito será o mesmo: você terá jogado seu tempo fora e não saberá de nada senão do que o apresentador diz ter sido sua egotrip no sonho presidencial.

A recorrência desta hipótese em torno do meu nome fez ressurgir uma espiral positiva de tamanha força que foi humanamente impossível não me deixar tocar. Assim, a cabeça e a alma começaram a operar novamente seus ciclos de altos e baixos, trazendo de volta ao meu radar uma decisão avassaladora.

“Minha cabeça rodando, rodava mais que os casais. O teu perfume, Gardênia, e não me perguntes mais”, diria o genial Aldir Blanc.

E qual foi a decisão avassaladora? “Não sou candidato a presidente do Brasil”.

Por que? O que pesou para tomar a decisão de não ser? Por que quis ser, se é que quis? O que lhe faltou?

Nem mesmo uma palavra. Que dirá sobre seus relacionamentos com o dinheiro público, no caso do jato financiado pelo BNDES e dos R$ 20 milhões da Lei Rouanet. Transparência, Luciano?

Mas o título “Estou dentro” é falso como uma nota de três reais porque, diz ele ao final, que vai “dedicar todo o tempo e a energia que estiverem ao meu alcance para ajudar a fazer este Brasil que a gente merece definitivamente acontecer.” Com boa vontade, deduz-se que ele quer “fazer o Brasil acontecer”. Acontece, Huck, acontece todos os dias para quem não tem jatinho nem iate, viu?

Você está fora, Huck, caia na real. Vai servir é de garoto propaganda para candidatos escolhidos a dedo por empresários que burlam, indiretamente, a proibição de verbas de pessoa jurídica em campanhas eleitorais.

O texto é de um egocentrismo mal-descrito (e mal escrito) que só nos diz que o autor, modestamente, fez algo parecido com uma psicanálise de grupo:

Foram centenas de conversas, cada uma delas um aprendizado. Ideias se conectando umas às outras e fazendo enorme sentido. No total, foram mais de dez meses de escuta profunda, debates, leituras, reflexão… um tempo de tanta intensidade e qualidade, que provocou uma revolução interna, virando do avesso tudo o que eu acreditava serem meus limites e demolindo os tetos que inconscientemente limitavam o espaço acima da minha cabeça.

A vaguidão é monumental. Não se sabe uma sequer das ideias que foram “se conectando”. Serve para religião, identidade sexual, relacionamento empresarial, física quântica, o que você quiser botar “na roda”.

Quando se quer lançar uma versão reciclada de algo bem antigo, os publicitários trocam-lhe a embalagem e tascam nela e na propaganda aquele “splash” (uma daquelas explosões gráfica das de quadrinhos) com um “novo” bem grande dentro…

Da mesma forma, quando se tinha de “marcar um texto” sem que se lhe tivesse o conteúdo, escrevia-se em sequência um “rolando lero” gráfico: “monomonomonoblablabla”. O “mono” é a “renovação da política”, o “blablabla”, desncesssário dizer.

Agora este texto figurativo foi trocado por um “Loren Ipsum”, um texto em latim que ajuda a perceber melhor a “mancha gráfica, porque não forma “caixas” de texto e que começa assim: Lorem ipsum dolor sit amet…

É algo que não precisa fazer sentido, apenas preencher o espaço, com programinhas da internet que combinam cerca de 200 palavras em latim e que aparece até na ajuda do Windows.

Mas tem uma origem, bem curiosa, neste caso. Vem de um texto de Cícero, sobre o bem e o mal, e originalmente era assim:

“Neque porro quisquam est qui dolorem ipsum quia dolor sit amet, consectetur, adipisci velit …”

O que, traduzido, fica sendo: “Não há ninguém que ame a dor, que a procure e que queira tê-la, simplesmente porque é dor.”

Huck não consegue dar nenhuma explicação sobre a espiral que, ao se dissolver, fez com que ele fosse “ali chorar um pouquinho” a sua “dolorem ipsum”.

Procurei um professor que corrigia redações no Enem, na esperança que pudesse apenas recomendar que Huck trocasse de escriba. Vã esperança. Diz ele que não há indício de terceiro redigindo: “Assessores escrevem. O nível é tão baixo que não tem como não ser dele. Se um assessor escreve aquilo, é demitido”.

Discordo. Há hoje muita gente especializada na arte de “não dizer”. Houve sempre quem justificasse a razão de ser de uma frase que ouvi de Brizola: “eu uso as palavras para mostrar o que penso, não para escondê-lo”.

Algo, certamente, Huck aprendeu com seus condutores na espiral da vaidade, a começar por FHC: a costurar com lantejoulas a pompa do vazio.

 

 

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