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Ministro da Justiça defende guerra total contra inimigos

Fev 22, 2018

 Por Luis Nassif, no GGN                                                                                              

 

O melhor retrato de como o movimento das marés vai modificando comportamento oportunistas é do Ministro da Justiça Torquato Jardim.

Ele teve um momento de garantismo, no decreto de indulto de Natal do presidente da República. Bastou o boato de que o decreto beneficiaria réus da Lava Jato para o mundo cair sobre ele. O valentíssimo Ministro Luís Roberto Barroso endossou as críticas da Lava Jato e a bravíssima Ministra Carmen Lúcia suspendeu sua tramitação.

Desde então, Torquato Jardim caiu em desgraça junto ao governo Temer. Passou a ser visto como o Ministro trapalhão, que não entendeu os novos tempos, que nada entende de segurança pública. Ficou de fora nas articulações que culminaram com a intervenção no Rio, sofrendo algumas humilhações.

Agora, disposto a recuperar o terreno perdido, Jardim despe a roupa de garantista e tenta se transformar em um arauto da luta implacável contra o crime – seja o que isso signifique.

Sua entrevista ao Correio Braziliense traça um quadro tão dantesco que fica-se sem saber se sua intenção é alertar para a loucura dessa guerra, ou se para preparar a opinião pública para o que virá pela frente.

Ele define a intervenção federal como um “guerra assimétrica”, ou seja aquela em que o inimigo tem várias frente de ação, dificultando o trabalho da repressão.

E o que se faz em uma situação dessas? No Rio, diz ele, “qualquer um pode ser o inimigo”.

E se o inimigo for um garoto de 15 anos?

“Se está lá com PM, Polícia Civil e Forças Armadas, se passar um guri de 15 anos de idade, você vê a foto dele, já matou quatro, entrou e saiu do centro de recuperação, uma dúzia de vezes, e está ali com um fuzil exclusivo das Forças Armadas, você vai fazer o quê? Prende. O guri vai lá e sai, na quarta ou quinta vez que você vê o fulano, vai fazer o quê? Você tem uma reação humana aí que deve ser muito bem trabalhada psicologicamente, emocionalmente, no PM ou no soldado. Você está no posto, mirando a distância, na alça da mira aquele guri que já saiu quatro, cinco vezes, está com a arma e já matou uns quatro. E agora? Tem que esperar ele pegar a arma para prender em flagrante ou elimino a distância?”

A loucura não termina aí. Segundo Jardim “você não sabe quem é o inimigo, a luta se dá em qualquer ponto do território nacional”. É tão fora de senso que fica-se sem saber se esse quadro dantesco é para alertar para as implicações dessa loucura ou se é para preparar a opinião pública para o que virá.

“Como você vai prevenir aquela multidão entrando e saindo de todas as 700 favelas? Tem 1,1 milhão de cariocas morando em zonas de favelas, de perigo. Desse 1,1 milhão, como saber quem é do seu time e quem é contra? Não sabe. Você vê uma criança bonitinha, de 12 anos de idade, entrando em uma escola pública, não sabe o que ela vai fazer depois da escola. É muito complicado”

Segundo ele, não há guerra que não seja letal. E as forças do Estado devem se adaptar ao terreno e aos armamentos, inclusive com alterações na legislação para dar salvaguardas aos militares em operação.

Adaptar-se à situação, na opinião abalizada de Jardim, é saber que se tanque não consegue entrar em favela, tem que se recorrer a outros carros de combate. Se as Forças Armadas convocarem fuzileiros navais, diz ele, ou um batalhão de infantaria na selva, estão mais acostumados a terrenos perigosos. Ou, então, paraquedistas, acostumados a um terreno mais agressivo.

Como foram deixar o país nas mãos desse bando de alucinados, sem nenhuma responsabilidade pública?

 

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