Eu, que já abominava a palavra de ordem “Cadê as provas contra Lula?”, dia desses deparei com um post do amigo Lima, que no seu perfil do facebook indagava : “Vamos cair na mesma esparrela do mensalão? Lula não foi condenado sem provas, mas sim sem crime.” Bingo! Parece uma mera filigrana semântica, mas não é. Para a campanha de resistência à prisão de Lula faz toda a diferença.
A cobrança de provas contra Lula, por mais bem intencionada e combativa que seja, traz de forma subjacente uma dúvida que não condiz com os fatos e dá margem a interpretações tortas. Um sujeito de baixo nível de informação política é capaz de extrair dessa mensagem a impressão de que Lula agiu de forma tão ardilosa que nem pistas que levem a provas deixou. Outro recado subliminar possível é que os nossos meganhas não foram competentes o suficiente para encontrarem as tais provas.
E mais: nos autos do processo mais fraudulento da história do Brasil, as únicas provas existentes são as apresentadas pela defesa de Lula, mostrando de forma cabal que o famigerado triplex de Guarujá pertence à OAS, tanto que foi incluído como patrimônio da construtora para efeito de penhora, em processo de execução de dívida movido pela Caixa Econômica Federal.
Contudo, mesmo não lhes cabendo o ônus da prova, cuja atribuição é do acusador, os advogados de Lula viram essa documentação ser solenemente ignorada pelo justiceiro de Curitiba.
O fato é que a acusação contra Lula, ridícula e patética de cabo a rabo, não seria sequer aceita pelos judiciários dos países de democracia minimamente consolidada. E só pôde prosperar no Brasil porque é aplaudida por uma legião de idiotas e imbecis cevada pela Rede Globo e congêneres.
A própria peça acusatória do Ministério Público é de uma indigência intelectual de dar dó. Senão vejamos: no famoso powerpoint do pastor-procurador Dallagnol , Lula é apontado como chefe de uma organização criminosa. Pois bem, é preciso ser de uma burrice atroz para conceber que na engrenagem dessa organizaço diretores da Petrobras, por exemplo, sejam acusados de roubar 100, 200, 300 milhões, enquanto o chefe tem que se contentar como um apartamentozinho no Guarujá. Piada
Mas uma fraude processual dessa magnitude, diga-se, só se tornou possível porque o julgamento da Ação Penal 470, o mensalão, chocou o ovo da serpente do fascismo e escancarou as portas para a banalização do lawfer, que é a utilização da justiça para fins políticos.
Ao longo da instrução do processo do mensalão, foram ouvidas mais 600 testemunhas. E todas, com exceção do delator Roberto Jefferson, negaram sua existência, ou seja, disseram desconhecer a compra de deputados por parte do governo.
No julgamento, o principal pilar do teatro acusatório montado pelo então ministro do STF, Joaquim Barbosa, teria ruído não fosse a cumplicidade canalha da mídia mafiosa. Isso porque o bravo jornalista Raimundo Pereira, na época editor da revista Retratos do Brasil, ao cabo de um trabalho investigativo digno de nota, provou que era mentirosa a tese do MP e de Barbosa, segundo a qual o mensalão teve como fonte de financiamento recursos desviados do VisaNet.
Com documentos, Raimundo não deixou dúvidas de que todo o dinheiro, que para Barbosa irrigara o bolso dos mensaleiros, fora efetivamente gasto com a campanha de marketing do cartão Ourocard, do Banco do Brasil. De nada adiantou. Como os réus petistas e outros já estavam antecipadamente condenados pelo tribunal da mídia, Barbosa sentou em cima dessas provas e ficou uto por isso mesmo. O caminho em direção à ditadura judicial-midiática que hoje destrói o país estava aberto.