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Um tributo à memória dos visionários

Abr 22, 2018

Por Fernando Pimentel, no GGN                                                                                         

 

 

 

 

Mais uma vez estamos reunidos nesta data que celebra a memória do mais célebre dos rebeldes de 1789: o Tiradentes.

Inspirado por essa lembrança cívica e também pelos ecos do passado que ressoam incessantemente aqui nesta querida Vila Rica dos Inconfidentes, quero endereçar esta minha fala para aquilo que me parece, de tudo, o mais essencial do exercício da política e da atividade pública.

Não estamos aqui reverenciando o ontem, os heróis do ontem, os revolucionários do ontem. Estamos, sim, pagando um tributo a memória dos visionários e aos construtores do amanhã. Heróis e abnegados que não se limitaram a viver o hoje de suas vidas, mas que ousaram sonhar com um amanhã em que houvesse um país, esse país chamado Brasil; heróis que ousaram acreditar que esse país conquistaria a liberdade e a independência que vivemos hoje; que imaginaram um amanhã em que os brasileiros teriam direitos e esses direitos seriam garantidos por uma Constituição feita pela gente e não pelos nobres do além-mar.

São esses heróis, construtores de um amanhã, que homenageamos neste 21 de abril.

Mais do que nunca a batalha do nosso tempo é a mesma dos inconfidentes: é a luta do ontem contra o amanhã.

O Brasil viveu a escuridão do arbítrio após o golpe de 64 e caminhou nas trevas do ontem durante mais de 20 anos, até reconquistar o amanhã da democracia.

Hoje, essa conquista histórica, que tanto sacrifício custou à nação brasileira e à minha geração em particular, está ameaçada.

A democracia está em risco, ameaçada pelas violências, pelas perseguições, pela brutalidade, pelos casuísmos, pelos excessos e abusos de poder.

Mas, tal como ontem, nós mineiros jamais deixaremos de estar na trincheira de luta pelo futuro, pela liberdade e pela igualdade.

O que nos une hoje aos inconfidentes, mais do que nunca, mais do que sempre, não é o ontem. É a certeza de que é nosso dever continuar a construir o que virá depois.

Um futuro que talvez não venha a ser para nós, mas será para todos depois de nós. E por ser de todos, e por ser um novo dia, valerá a pena ter lutado por ele mesmo que não estejamos aqui para vivê-lo, assim como os heróis da Inconfidência o fizeram.

Essa fantástica e intrépida ousadia daqueles idealistas nos faz pensar qual é o verdadeiro e essencial sentido da política.

É claro que gerir a coisa pública é cuidar e melhorar cada vez mais o hoje: fazer funcionar melhor o que já existe, alcançar melhores índices na saúde, na educação, na segurança.

Líderes que cuidam do hoje são eficientes, até indispensáveis.

Mas há aqueles líderes que, sem descuidar do hoje, constroem o amanhã. Esses são os que transformam, esses são os que ficam na História.

Aqui na nossa querida Minas Gerais tivemos o luminoso exemplo de Juscelino Kubitscheck.

Quando ele fez a Pampulha, não estava pensando no entorno de uma lagoa. Ele estava criando o futuro, lançando um projeto de modernização e as bases para a projeção de nossa terra como o epicentro de modernidade, talento e da criatividade.

JK construiu o amanhã com as usinas hidroelétricas, com as estradas que rasgaram e uniram e aproximaram o nosso estado, até então isolado.

Com energia, permitiu que saíssemos de um estágio de extrativismo e abriu as portas da industrialização para Minas Gerais. Tudo isso em poucos anos.

Senhoras e senhores

Tanto o Brasil quanto Minas Gerais atravessaram uma de suas piores crises nos últimos anos. Assumi o governo e, ao invés de apontar culpados, fui buscar soluções para os inúmeros problemas e as inúmeras distorções que encontrei.

Nada falei contra ninguém, nada acusei, não joguei pedras no que ficou para trás.

Até porque a obrigação de quem assume um governo não é bater boca com o passado, mas sim enfrentar o presente e conduzir o estado para o futuro.

Encontramos no Estado uma realidade destruição: destruição das finanças públicas, das prioridades administrativas, destruição da capacidade do estado de pagar o que deve e de cumprir seus compromissos, enfim, destruição da esperança de um povo.

Isso por quê? Porque antes de nós havia desperdiçado no ontem o nosso amanhã, com obras faraônicas e, hoje sabemos de preços superfaturados.

Desperdiçaram recursos fazendo obras desnecessárias e tomando decisões equivocadas, investindo em poucos e vistosos cartões postais do desperdício, ao invés de investir em muitas e necessárias outras obras, fazendo as opções corretas.

Fizeram opções erradas, que nunca teriam sido feitas se o diálogo tivesse sempre sido uma prática de governo.

Acho que hoje, após tanto trabalho e tanto empenho, tanto sacrifício podemos dizer que está surgindo a luz de um amanhecer depois de atravessarmos o pior momento da pior das tempestades.

E o que aprendemos nessa travessia?

Aprendemos que nunca mais, repito, nunca mais Minas Gerais pode colocar em risco o seu futuro.

Seja quem for aquele que assumir a nobre função de conduzir o destino dos mineiros e das mineiras, sua responsabilidade número um deve ser a de preservar, criar e ampliar o amanhã de nossa gente, assim como fez JK com seu arrojado projeto de desenvolvimento, assim como fez Getúlio Vargas na formatação das leis trabalhistas e da previdência, assim com fez o presidente Lula com seus bem sucedidos programas de inclusão social.

Heróicos construtores do amanhã, esses três líderes que mencionei, viveram, não por coincidência, a dor da perseguição e da ofensa. Foram vilipendiados, caluniados, injustiçados, e, até porque não dizer, martirizados. Mas são vitoriosos, ao final.

Amados por nosso povo, principalmente pelos humildes, de quem cuidaram com carinho incontestável.

Conquistaram espaço eterno no coração da gente brasileira.

Já os seus algozes, esses têm lugar garantido no limbo do desprezo e do esquecimento histórico.

Carrascos são sempre figuras menores, imagens evanescentes no efêmero palco que escolheram, onde a luz desaparece assim que se apagam os refletores da mídia.

Trabalhar incessantemente pelo amanhã, esse é o exemplo dos heróis da Inconfidência.

Esse também é o exemplo dos líderes que nossa gente entronizou no Panteão da República.

Mas, minhas senhoras e meus senhores, caros amigos, a estrada para o futuro não pode ser pavimentada pelas pedras do ódio, pela intolerância, pelo cimento da argamassa da injustiça.

Na cerimônia de hoje estamos condecorando postumamente duas vítimas do ódio anacrônico e ignorante que tenta calar a voz dos que lutam pela liberdade e pela justiça social.

Falo de Marielle Franco e Anderson Pedro, cruelmente abatidos pelas mãos daqueles que querem submeter o Brasil ao arbítrio do fascismo, fascismo que já começa a mostrar suas garras sanguinolentas nos arreganhos de certos personagens toscos, poluidores do ambiente político com sua postura discriminatória, racista e autoritária.

Mas, em Minas Gerais não, nós nos recusamos a trilhar esse caminho.

Ao contrário: em meio à selva de discórdias, de violações de direitos, de abusos, de agressões às liberdades civis e aos mais comezinhos princípios democráticos, em meio à essa algazarra punitivista e retrógrada que hoje quase ensurdece a nação brasileira, Minas Gerais abre uma clareira de respeito às instituições, de convivência harmoniosa entre os poderes republicanos, mantida sempre a independência, a autonomia e o papel constitucional de cada um.

E aqui quero prestar de público minha homenagem ao Poder Legislativo estadual na pessoa do deputado Rogério Correia, à nossa magistratura representada pelo Presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Geraldo Augusto, e ao Ministério Público na pessoa do Procurador Geral Antonio Sergio Tonet.

São estes poderes que, com equilíbrio e bom senso, respeitados os direitos institucionais e no estrito limite da lei, estão ajudando a manter o Estado nos trilhos que nos levam ao futuro.

Aqui não houve nem haverá colapso dos serviços públicos.

A despeito da crise econômica e do gigantesco déficit que herdamos, o Estado funciona e apresenta bons resultados.

As forças de segurança cumprem o seu papel e a criminalidade está em queda, como mostram os índices.

As obras que encontramos paralisadas foram retomadas e muitas já entregues.

Organizamos um novo modelo de administração, lastreado pelas amplas consultas populares dos fóruns regionais de governo, sem a empáfia e a arrogância dos “choques” de marketing que nenhum legado positivo deixaram.

As prioridades mudaram. As escolhas agora estão lastreados no desejo urgente do nosso povo.

Agora governamos, com simplicidade, com humildade, mas governamos para todos.

Enfim, queridos amigos, com serenidade, com equilíbrio e com muito trabalho, virtudes da gente mineira, nosso Estado está atravessando o período mais difícil e turbulento da nossa história republicana, e está se saindo melhor que a maioria dos estados e dos demais territórios da Federação.

Basta olhar em torno e comparar.

Digo isso com tristeza, porque somos todos brasileiros e solidários com nossos coirmãos de outras paragens.

Mas, nesse momento de crise, a melhor contribuição de Minas Gerais é o exemplo que damos, volto a dizer, de moderação e de compromisso com os preceitos democráticos, com os direitos individuais e a com a liberdade.

E porque é de liberdade que se trata, ela, matéria prima da vida civilizada e da democracia, que não posso terminar esta fala neste dia, justamente neste ano, neste momento dramático de nossa História, sem proclamar alto e bom som a frase símbolo dos Inconfidentes, frase que ostentamos com orgulho na nossa bandeira: Deus nos ilumine para que não nos falte nunca a “Liberdade ainda que tardia!”

Viva Minas Gerais! Viva o Brasil!

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