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Como em 1995, “somos todos petroleiros”

Mai 30, 2018

Por Bepe Damasco                                                                                         

 

Dá gosto de ver a pauta da greve de advertência dos petroleiros deflagrada nesta quarta-feira e prevista para durar 72 horas: demissão de Pedro Parente, redução do preço do gás de cozinha e dos combustíveis, não à privatização da Petrobras, manutenção dos empregos, retomada da produção das refinarias e o fim da importação em larga escala dos derivados do petróleo.

A mídia venal, o presidente da Petrobras (inclusive em carta dirigida aos petroleiros), o usurpador Temer e sua base no Congresso alegam que a greve tem pauta política. Esta foi a justificativa da ministra Maria de Assis Calsing, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), para conceder uma liminar à Advocacia-Geral da União declarando a greve ilegal e impondo uma multa diária de 500 mil reais, que depois passou para 2 milhões, às entidades sindicais dos petroleiros. Esse ataque da ditadura do Judiciário à autonomia e à liberdade sindicais não intimidou a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a greve nacional já é realidade.

Pois saibam todos os antipatriotas, para quem a maior empresa do país deve se curvar aos interesses dos acionistas e do mercado, sacrificando o consumidor e a economia que a greve é política, sim senhor. Política com P maiúsculo. Política em defesa do Brasil e dos brasileiros.

Ao não incluir itens de caráter corporativo em sua pauta, a FUP dá um exemplo que oxalá se dissemine pelo movimento sindical. Sim, porque embora tenham que cumprir sua missão de lutar pelos direitos específicos de suas categorias, os sindicatos que olham apenas para seu umbigo, e abdicam de se posicionar em relação às causas caras à sociedade e ao país, estão condenados a desempenhar um papel institucional medíocre e cada vez menos importante e estratégico.

Há muito os petroleiros vêm alertando que a política irresponsável de preços de Parente à frente da Petrobras arruinaria o Brasil. O caos do desabastecimento no qual o país está mergulhado é a consequência trágica de mais 200 reajustes de combustíveis na era golpista, sempre tendo como parâmetros a variação do dólar e do preço do barril do petróleo no mercado internacional. Em clara afronta à nação, fico sabendo que, com o país no fundo do poço, Parente acaba de decretar um novo aumento do preço dos combustíveis nas refinarias, a vigorar a partir desta quinta-feira, 31 de maio.

Enquanto isso, as refinarias nacionais são subutilizadas para que o Brasil se consolide como um exportador de petróleo bruto, importando cada vez mais diesel e gasolina com valor agregado. E pensar que a Petrobras foi fundada há mais de 60 anos justamente para que o nosso país deixasse de ser refém dos preços internacionais.

Em homenagem à tradição de luta e combatividade dos petroleiros, transcrevo aqui trecho de um texto da CUT Nacional sobre a greve histórica dos petroleiros de 1995. Repare como 23 depois encontramos pontos coincidentes entre o movimento que enfrentou FHC e o atual, especialmente no tocante à ameaça de privatização da empresa e à postura da mídia e do Judiciário.

“Em 3 de maio de 1995, os petroleiros iniciavam a mais longa greve da história da categoria. Uma greve de 32 dias, que tornou-se o maior movimento de resistência da classe trabalhadora à política neoliberal e entreguista do PSDB e do DEM (então PFL). Uma greve que foi fundamental para impedir a privatização da Petrobras (...)

Durante a greve os petroleiros resistiram às manipulações e à repressão do governo, bem como à campanha escancarada da mídia para jogar a população contra a categoria. Milhares de trabalhadores foram arbitrariamente demitidos e punidos, mas enfrentaram o Exército, que a mando de FHC ocupou com tanques e metralhadoras as refinarias da Petrobras. A FUP e seus sindicatos foram submetidos a multas milionárias por terem colocado em xeque o julgamento viciado do TST, que decretou como abusiva uma greve legítima e dentro da legalidade (...)

A greve despertou um movimento nacional de solidariedade e unidade de classe, fazendo ecoar por todo o país um brado que marcou para sempre a categoria: somos todos petroleiros.”

 

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