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E a autocrítica dos que aplaudiram o movimento fascista de 2013?

Jul 26, 2018

Por Bepe Damasco                                                                                                    

 

Em primeiro lugar, antes que façam uma leitura torta do que pretendo escrever aqui, expresso a minha solidariedade aos 23 condenados pelo envolvimento nos protestos de 2013 e manifesto o meu repúdio a mais essa decisão descabida da desmoralizada e corrompida justiça brasileira.

Era junho ou julho de 2013 e rolava uma conversa, na sede da CUT-RJ, envolvendo alguns dirigentes e assessores, além de militantes da juventude petista, em busca de um entendimento mínimo sobre o que estava acontecendo naquele momento no Rio e no Brasil, palcos de manifestações de rua cada vez mais numerosas.

As análises sobre o fenômeno eram as mais distintas, pois aquele terremoto na conjuntura não permitia ainda a visualização de seus reais contornos políticos.Também o fato de ser um movimento transversal, em rede e anárquico, sem bandeiras e lideranças claras, contribuía para que boa parte das pessoas tateassem no escuro procurando entender suas causas e seus rumos, objetivos e desdobramentos.

Embora um dos mantras dos manifestantes fosse a palavra de ordem “sem partido”, veto que alcançava também as organizações tradicionais dos movimentos social e sindical, dessa reunião brotou a decisão de que a CUT devia participar de forma organizada do protesto seguinte, marcado inclusive para o fim da tarde do mesmo dia. Os atos vinham ocorrendo quase que diariamente.

Logo, porém, a decisão se revelaria um desastre. Ao chegarem às imediações da igreja da Candelária, os cutistas, portando suas bandeiras e camisas vermelhas, foram cercados por uma turba enfurecida (não uma minoria de fascistas, como se diz erradamente, mas uma grande parcela da massa de manifestantes) que aos gritos de “fora CUT” partiu para a agressão aos sindicalistas. Estes resistiram, mas tiveram suas bandeiras tomadas e queimadas, sendo obrigados a se retirar do protesto.

Dali por diante, especialmente depois que as jornadas de protesto foram definitivamente orquestradas pela Rede Globo, com sua cantilena contra a corrupção e ataques incessantes ao governo federal, o movimento caiu de vez nos braços da intolerância e do totalitarismo, cristalizando formas de organização e métodos tipicamente fascistas, como o repúdio à política e a aversão visceral aos lutadores políticos e sociais que não é de hoje dedicam suas vidas a causas caras ao povo brasileiro. As passeatas, que eram engrossadas de forma exponencial por levas de rebeldes sem causa, viram, então, o modismo da vez. Jovens da classe média e da periferia não perdem a oportunidade de participar daquele grande barato inconsequente.

E parte da esquerda insistia em enxergar viés progressista, e até revolucionário, naqueles protestos protofascistas que começaram com uma mobilização contra o aumento de 20 centavos no preço da passagens de São Paulo e firmaram-se, principalmente, como um “basta à corrupção”, histórico estandarte da Casa Grande brasileira para apear do governo os partidos e políticos com compromissos populares.

Esquerdistas ingênuos se mostravam inebriados pelo festival de bobagens que tomava as ruas na forma de cartazes pedindo mais saúde e educação, esquecendo-se de questões básicas em quaisquer movimentos reivindicatórios: mais saúde e educação como, com que pauta, endereçada a que esfera de governo, negociando com quem, pressionado com abaixo-assinado ou fazendo greve?

E o Brasil? O que era o Brasil de cinco anos atrás? Desemprego de 4,2%, índice considerado pleno emprego pelos economistas; inflação baixíssima; gasolina a 3 reais; reservas cambias de 380 bilhões; todos os programas sociais da era Lula mantidos e ampliados por Dilma; aumento real anual do salário mínimo, elevando-o para um patamar superior a 300 dólares; regime de partilha do pré-sal, em cuja legislação foi incluída a criação de um fundo para ser investido em educação, saúde e ciência e tecnologia (o passaporte para o futuro do povo brasileiro, como dizia o Lula); CLT intocada, etc. Tamanha bonança conferia ao governo Dilma índices de popularidade semelhantes ao de Lula, se comparados os mesmos períodos de governo.

A confrontação entre este país e a desgraça que vivemos hoje, na minha visão, é a prova cabal e insofismável de que os mascarados arruaceiros conhecidos como black blocs, também vistos de forma edulcorada por uma certa esquerda, sempre atuaram a soldo de interesses do submundo do capitalismo, de provocadores fascistas e demais segmentos da escória antidemocrática e obscurantista nativa. Esses mesmos que agora perderam a vergonha de atuar sob a luz do sol.

Houve o golpe de estado, e nada de black bloc; congelamento dos gastos públicos por 20 anos, e nada de black bloc; o pré-sal e as riquezas estratégicas da nação são pilhadas pelos golpistas, e nada de black bloc; acabaram os direitos trabalhistas, e nada de black bloc; a quadrilha que governa de forma ilegítima o país promove a maior regressão social da história, e nada de black bloc; nunca se roubou tanto dinheiro público, e nada de black bloc Não é preciso dizer mais nada.

Depois que foi solta da garrafa, a besta do fascismo faz estragos civilizatórios e destrói a sociedade brasileira. Estou esperando sentado pela autocrítica dos bem-intencionados quadros da esquerda, tanto militantes políticos como integrantes da academia, os quais foram incapazes de enxergar que o ovo da serpente do fascismo estava sendo chocado. Quando mais não seja, para que nunca mais aconteça. De mais a mais, o inferno está lotado de gente de boa intenção.

 

 

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