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Esta será a primeira eleição brasileira sem debate no 2º turno

Out 16, 2018

Por Joaquim Carvalho, no DCM                                                                                                  

 

Desde que as eleições presidenciais começaram a ser disputadas em dois turnos, esta poderá ser a primeira vez em que os adversários em turno decisivo não realizam debate.

Desde o primeiro turno, estavam marcados seis debates para a etapa final da eleição: dia 11 de outubro, na Band; 14, na Gazeta; 15, Rede TV; 17, no SBT; 21, na Record; e 26, na Globo.

Os debates da Band, Gazeta, Rede TV e SBT já estão prejudicados.

Na Record, não há preparativo para o encontro. E, assim como a concorrente, a Globo parece dar como fato consumado a não realização do debate.

A única razão para que não haja o confronto direto entre os dois candidatos é a resistência de Jair Bolsonaro.

Seus médicos disseram que ele estaria liberado para participar dos debates a partir desta quinta-feira, mas o candidato tem dado declarações contraditórias.

Ora diz que debateria com Lula, não com Haddad, que ele chama de poste, ora diz que jamais debateria com o ex-presidente.

Ao causar confusão, tenta evitar a imagem de covarde. Mas é disso que se trata: Bolsonaro teme perder.

No primeiro turno, quando confrontado com Guilherme Boulos ou Marina Silva, ficou com cara de paspalho. Marina Silva o enquadrou pelas declarações misóginas.

Bolsonaro balbuciou algo como “leia Paulo”, numa referência ao pensador que, com suas cartas, elaborou o que seria a doutrina da igreja cristã.

Em uma delas, a primeira carta enviada aos cristão da cidade de Corinto, Paulo diz que mulheres não teriam nada a ensinar aos homens.

Em relação a Boulos, deixou sem resposta a lembrança que lhe foi feita sobre a sua evolução patrimonial desde que entrou na política.

“Em 27 anos de política, conseguiu a proeza de aprovar dois projetos e comprar cinco imóveis. Mais imóveis do que projetos. Você não tem vergonha disso?”, questionou Boulos.

Debates são realizados em respeito aos eleitores, que têm direito de conhecer o candidato, saber como reagem em situações que podem ser adversas.

Em 1989, Lula era dado como derrotado logo no início do segundo turno, já que a distância entre ele e Collor era equivalente a que separa hoje Bolsonaro de Haddad. No entanto, no primeiro debate, Lula se saiu melhor, e alguns dias depois já aparecia nas pesquisas encostado no oponente.

No segundo debate, Collor se saiu melhor, mas o que era uma vitória apertada foi apresentado em edição desonesta da Globo como um feito espetacular, como se Lula tivesse sido massacrado.

Fernando Henrique Cardoso se elegeu em 1994 participando dos debates, mas em 1998, na campanha à reeleição, se recusou a tomar parte deles no primeiro turno.

A Globo deu uma força, ao não marcar nenhum encontro entre os candidatos, sob a desculpa de que havia candidatos demais — 12 — e que a lei obrigaria que todos fossem convidados — na verdade, só quem era de partido que tivesse pelo menos um deputado federal.

De qualquer forma, Fernando Henrique assumiu o compromisso de que, caso houvesse segundo turno, ele participaria de debates. Não houve.

Em 2002, Lula e Serra debateram, na estréia de um formato que Globo importaria dos Estados Unidos, com o candidato apresentado de corpo inteiro, caminhando por um palco. Ou arena.

Em 2006, na campanha à reeleição, Lula honrou o compromisso de que, havendo segundo turno, ele participaria dos debates. Enfrentou Geraldo Alckmin.

Em 2010, Serra teve a oportunidade de debater com Dilma Rousseff no segundo turno e, em 2014, foi a vez de Aécio.

Ao fugir do debate, Bolsonaro contribui para desgastar ainda mais a imagem do Brasil no exterior, já que debates são considerados fundamentais para o processo democrático de escolha dos governantes.

Nos Estados Unidos, o debate foi considerado decisivo para a eleição de John Keneddy, em 1960.

Católico num país de maioria protestante, pouco conhecido nacionalmente, Kennedy venceu o confronto com Richard Nixon, que era vice-presidente e bastante conhecido.

Kennedy, bom orador, com boa imagem, se mostrou mais preparado do que o oponente para ocupar a presidência nos Estados Unidos.

Nixon, suando bastante e com imagem cansada, teve de esperar oito anos nos por uma nova chance, e aí venceu, depois de passar pelo teste decisivo dos debates.

Só em países não plenamente civilizados é que aventureiros como Bolsonaro conseguem apoio para se tornar o primeiro-mandatário do país sem se submeter ao confronto direto de propostas e ideias com seu adversário.

Esta é uma situação inusitada, própria do Brasil destes dias estranhos, e a imprensa hegemônica, a velha imprensa, viciada em negócios, trata tudo como algo banal, corriqueiro, como se estivéssemos em plena democracia.

Enquanto evita o debate, Bolsonaro aceita participar de programa de auditório. É o que acontecerá no próximo domingo, quando Sílvio Santos, do SBT, dará 10 minutos para que Bolsonaro converse com ele e seu público.

 

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