Rupturas institucionais são custosas. Custam caro às sociedades. A via democrática e do respeito ao estado de direito, submetida a regras eleitorais isonômicas e a processos judiciais dentro das normas constitucionais e do bom direito, são garantias de uma sociedade sadia. As mudanças podem até parecer lentas dentro do estado democrático, mas são menos traumáticas e mais duradouras.
O Brasil vive uma ruptura institucional e foi instaurado no país um novo regime. Um regime de exceção instituído por dentro, a partir da deformação das instituições democráticas.
Setores que hegemonizaram a casta privilegiada do judiciário, do aparelho policial federal, das forças armadas e demais setores de controle da burocracia estatal tomaram de fato o poder no Brasil. E passaram a agir de forma discricionária, ilegal, inconstitucional e antidemocrática.
Esse fragmento de classe incrustado no Estado, pertencente à classe média tradicional ou à parte das elites, obviamente não dominou o país sozinho.Contou com o auxílio econômico, intelectual e logístico de grandes corporações internacionais, de olho no nosso petróleo e demais riquezas; foi treinado e “incentivado” pelos organismos do departamento de estado e de justiça dos EUA; teve apoio da burguesia nacional vassala destes grupos internacionais e da mídia monopolizada por famílias ricas, formando um poderosíssimo complexo de poder que hoje comanda o Brasil de forma ditatorial.
Seu objetivo principal é aniquilar o PT e seu símbolo maior: Lula. Depois, a esquerda. Mas, à medida que avança o estado policial a esquerda passa a ser pouco. É preciso destruir todo o mundo político. Toda a representação popular que esteja em incompatibilidade com o mundo da “governança técnica” deve ser desmoralizado e destruído. Os processos judiciais viciados e condenações sem prova e sem base legal são os instrumentos para as prisões espetaculares cobertas pela mídia, que faz parte do complexo de poder, e cumpre o papel de desmoralizar previamente na opinião pública suas vítimas. Forma-se um brutal aparato de poder autoritário e ditatorial. Um fascismo soft.
Zé Dirceu e seus companheiros de direção política foram vítimas iniciais desse processo. Depois vieram outros, até chegar à absurda e ilegal prisão de Lula. Agora esse complexo, legitimado pela eleição sem Lula e preparada para a vitória do Bolsonaro, está mais ativo e forte do que nunca.
Uma nova leva de prisões e processos ilegais acontecerão em 2019. Poucos do PT escaparão. Muitos da esquerda e do campo político democrático serão também perseguidos e presos em processos viciados. A inquisição está insaturada!
Como reagir? É possível reagir? Sempre é !
O PT e a esquerda, que são as carnes mais baratas do MERCADO, devem tomar três medidas que não são incompatíveis, mas diferentes:
1- Girar a maior parte de seu esforço organizativo para as periferias e bairros populares, sobretudo para a juventude, para um trabalho político de três, quatro, cinco anos, no mínimo. Período em que muitos estarão presos, mas que milhares de militantes estarão nas comunidades organizando e formando muitos outros milhares, para acumular forças, derrubar o regime ditatorial e instituir uma democracia popular de verdade;
2- Constituir um programa político de reformas para o país, garantindo emprego, salário digno, renda básica, soberania sobre as riquezas nacionais, devolução das estatais e das riquezas nacionais roubadas, democracia de fato, com ampla participação popular, igualdade de disputa nas eleições e fim total da interferência empresarial na política, dentre outros pontos fundamentais. O povo precisa saber que a saída da crise está aqui! Tudo isso com a campanha Lula Livre e a defesa do legado dos anos Lula que estão na cabeça do povo como os melhores anos de sua vida;
3- Dialogar com toda a nação e com todas as forças sociais e políticas democráticas dispostas a lutar contra o regime ditatorial instalado, buscando construir uma Frente Ampla Democrática. Não é hora de estreiteza, é hora de ampliar forças para todos que sejam incompatíveis com o atual regime ou que venham a romper com ele.
Por fim, é preciso deixar claro para aqueles que se apoderaram do Estado para instituir este regime de exceção, que seus crimes e suas ilegalidades um dia serão julgados por tribunais constitucionais e legalmente constituídos, com a chancela de organismos internacionais. Um a um eles terão que pagar pelas injustiças cometidas. A roda da história gira e quem hoje oprime e fere com a espada da INJUSTIÇA amanhã será chamado a prestar contas à verdadeira justiça de um autêntico estado democrático de direito. Foi assim com os altos dirigentes do regime nazista e teremos que fazer o mesmo no Brasil quando derrotarmos o regime ditatorial vigente.
Washington Quaquá foi prefeito de Maricá por oito anos, é presidente estadual do PT do RJ e foi eleito deputado federal pelo RJ com mais de 74 mil votos, tendo o mandato popular cassado por decisão ilegal e arbitrária do TSE.
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