Foto: Nando Neves / Divulgação CUT
Há uma crise política de grandes proporções no Brasil. A mídia, controlada por grupos econômicos privados; o partido mais representativo da classe economicamente dominante, o PSDB; o presidente da Câmara dos Deputados; enfim, os setores que hoje detém o poder econômico, tomaram a iniciativa política no país e “decretaram” o fim do governo Dilma.
O golpe está em curso e é muito provável que a presidenta, eleita há menos de um ano por processo democrático e pela maioria do eleitorado, não consiga se segurar no cargo, caso não retome imediatamente a iniciativa política, estabelecendo uma pauta que mobilize o povo. É preciso usar a máquina a articulação política para isolar Eduardo Cunha e os golpistas.
Mas não se iludam! O que está em jogo não é o fim de um governo, mas o fim de um ciclo. Com o desgaste do regime militar, um novo regime surgiu com muita negociação e concessões, como é de praxe na história do Brasil. Estava construída a chamada Nova República. Coube a ela integrar a esquerda e os movimentos sociais ao jogo eleitoral e a sua institucionalidade, sem rupturas.
Foi na Nova República que o PT formou em torno de si um bloco político de esquerda que possibilitou várias vitórias municipais, estaduais e legislativas. Construiu uma marca, mesmo tendo experimentado, desde 1989, diversas derrotas de seu líder Luiz Inácio Lula da Silva nas disputas presidenciais. Lula e o PT só conseguiram uma vitória eleitoral para a presidência da república quando moderaram seu programa e ampliaram as alianças para uma composição mais conservadora.
A Nova República teve o mérito, sob o ponto de vista do capitalismo brasileiro, de ter moderado ao extremo a esquerda. Foi certo ou errado, do ponto de vista da esquerda?
Foi certo ter incluído 40 milhões de brasileiros no mercado de trabalho e no mercado de consumo; foi certo ter colocado milhões de jovens, quase todos pobres e muitos deles negros, nas universidades públicas e privadas graças ao Reuni e ao Prouni; foi certo ter dado milhões de casas a quem não tinha teto, através do Minha Casa Minha Vida; foi certo ter mais que triplicado o número de escolas tecnicas federais; foi certo ter aumentado o salário mínimo acima da inflação dando ganhos reais nunca vistos na história; enfim, depois de 12 anos de governos petistas, o Brasil é outro e as exigências do povo muito maiores. Isso, por si só, é um avanço civilizatório na história do Brasil. Além disso, este processo serviu para consolidar a liderança do Lula junto ao povo Brasileiro. É a primeira vez que um homem do povo, vindo das profundezas das classes populares e com formação na esquerda, se transforma em um líder popular carismático. Lula marca a história do Brasil e deixará por décadas sua influência na política e será sempre um farol a guiar e abrir caminhos para a esquerda no coração do povo. Isso não é pouca coisa!
Foi errado não ter politizado o povo; não ter democratizado os meios de comunicação; não ter feito a reforma agrária ampla e fortalecido politicamente o MST; não ter criado instrumentos para politizar e organizar os jovens que chegavam à universidade e às escolas técnicas; não ter organizado uma rede de economia solidária junto aos beneficiários do bolsa família; não ter dado protagonismo político ao MTST, Conam e demais movimentos de moradia na condução do Programa Minha Casa Minha Vida; não ter imposto um programa nacional de mobilidade urbana rumo à Tarifa Zero; não ter tomado as rédeas da Polícia Federal e criado uma força tarefa de Combate à TODA a corrupção, de tucanos, demos, psbistas, petistas e todas as colorações, como ação de governo; não ter feito uma reforma democrática e popular do judiciário e o conjunto de reformas que o Brasil precisa.
Mas o fato é que está claro, como sempre na história desse país, as classes dominantes não toleram qualquer mudança mais profunda e muito menos a melhoria nas condições de vida das amplas massas populares. O PT foi ingênuo ao achar que havia feito um “pacto social” capaz de congelar a luta de classes e permitir mudanças graduais que melhorariam gradativamente a vida do povo até a obtenção de forma mansa e pacífica de um estado de bem estar social brasileiro. A prova está aí! Nossas elites não toleram qualquer melhoria na vida do povo e agem com violência quando pensam em um nível mínimo de justiça social para o povo. Não é à toa que movem agora céu e terra para tentar o golpe contra a Dilma.
Se a presidenta não reagir e unir todas as forças populares que ainda puder dispor, de fato ela pode perder o mandato. Seja la da forma jurídica que eles inventarem, com qualquer desculpa mal lavada. Assim o farão!
Mas fiquem sabendo que uma derrota da Dilma e do PT, com a deposição de um presidente eleito, significará o fim da Nova Republica. Os colchões de amortecimento institucional serão rompidos. A luta de classes voltará a ser travada sem graxa, sem mediação, em conflito aberto. Vamos demorar mais 4, 8 ou 12 anos para voltar ao governo federal. Mas também, vamos reorganizar uma esquerda mais valente, mais reformista, mais rebelde, mais transformadora e mais revolucionária.
Que a burguesia despedace a Nova República! Vamos lutar por uma república democrática e popular! Que a burguesia fique à vontade e construa uma crise de regime!