A perpetuação do racismo e a ocorrência de mortes violentas, são diariamente construídos e legitimados pelos inquéritos da Polícia Civil. A forma como as agentes estatais gerenciam a morte e a vida da população negra e pobre, principais vítimas de homicídios, foi constatada pela antropóloga e doutora pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Flávia Medeiros.
Autora do livro "Linhas de Investigação: uma etnografia das técnicas e moralidades numa Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro", lançado em São Paulo nesta semana, Flávia revela uma série de técnicas e mecanismos utilizados no tratamento institucional na região metropolitana do Rio de Janeiro, entre elas, a investigação da vida da história do morto até o repasse da apuração aos familiares das vítimas por intervenção policial em áreas administradas por facções criminosas, que confirmam uma política de "necropoder".
Só nestes mês de fevereiro, 13 pessoas foram mortas durante operação policial na Favela do Fallet, na região central da capital fluminense, e, há uma semana, o jovem Pedro Henrique Gonzaga, de 19 anos, foi estrangulado e morto pelo segurança do supermercado Extra, na Barra da Tijuca.
"Hoje, o que a gente acompanha é na verdade esse crescimento dos autos de resistência, que tem muito a ver também com essa atuação da Polícia Civil, que mata, atira e continua validando essas mortes produzidas pela PM (polícia militar) e pela Polícia Civil, desde o local do crime, passando pela IML e construindo a verdade sobre aquela morte", afirma a pesquisadora à Rádio Brasil Atual.