Não vou me perder em considerações sociológicas sobre o fenômeno da expansão do neopentecostalismo no Brasil, porque se não se pode fechar os olhos sobre as fontes externas de sua semeadura igualmente não se pode ser cego para o que fez fértil a terra onde ele brotou: um povo abandonado, que perdeu suas identidades culturais e gregárias, sobre o quala ideologia da ambição – mola do capitalismo – transformou o sucesso em ‘escolha de Deus” e, por isso, levou à deserção da ideia de igualdade, da fraternidade e, quanto à liberdade, de algo que é para si, mas não para os outros.
Não vejo, pessoalmente, nada de errado em um governante comparecer a uma festa ou celebração religiosa.
Mas “o desejo descontrolado e nocivo” – para usar a expressão da exortação de Paulo a Timóteo, na Bíblia – de servir-se disso é uma desnaturação completa, da ideia de respeito à religião, ainda mais quando isso se expressa em gestos de intolerância que, em última análise, pregam o extermínio do diferente.
“Arminha” com Jesus, como fez ontem Jair Bolsonaro na marcha evangélica, é o fim da picada.
Mas ainda pior foi usar o palanque para defender a própria reeleição, antecipando um clima de eleição e querendo fazer crer que os evangélicos são seu “rebanho” cativo.
Mas também entre eles, inexoravelmente, a hipocrisia de quem se proclama cristão e prega a morte, de quem se proclama “do bem” e vive apontando o “mal”, de quem põe a si e ao seu clã, mesmo acima de tudo e de todos, inclusive da lei, está produzindo efeitos.
Não descreiam a lucidez do povo, usar o nome de Jesus na camiseta não opera o milagre de transformar Bolsonaro em Deus.
Não é à toa que a “arminha” já está quase apontando para o próprio pé.