Calúnias e difamações em profusão (kit gay, mamadeira de piroca e toda sorte de ataques sórdidos a Haddad e Manuela D’Ávila) impulsionadas via whattsapp, num esquema criminoso ancorado no financiamento ilegal por parte de empresas. Como se sabe, a lei veda o financiamento empresarial a partidos e candidatos.
O respeito à vontade soberana do eleitor e à lisura do processo eleitoral são feridos de morte com a prisão do candidato favorito e a impugnação de sua candidatura ao arrepio da lei, para impedir sua vitória, que se daria possivelmente ainda no primeiro turno. Como mesmo encarcerado esse candidato seguia liderando as pesquisas, providenciam mais uma violência institucional contra ele: proibir suas entrevistas.
Em inaceitável ofensa aos eleitores e a preceitos republicanos, o candidato que venceria o pleito, com a conivência e cumplicidade dos veículos de comunicação oligopilizados, se nega a participar dos debates, escondendo sua monumental boçalidade, grosseria e estupidez numa enfermaria de hospital. Sua presença em apenas um dos debates teria o potencial de mudar o resultado eleitoral.
Justamente no momento da campanha em que o candidato do PT mais cresce nas pesquisas, a ponto de analistas considerarem que sua liderança seria questão de dias, pois já aparecia em primeiro nas simulações de segundo turno, o país é sacudido pela notícia da facada. Daria outro artigo a soma de evidências, cada vez mais sólidas, a mostrar que o atentado não passou de uma planejada fraude para reverter as expectativas eleitorais.
A uma semana da realização do primeiro turno, e já tendo recebido a promessa de recompensa pelos serviços prestados – o cargo de ministro da Justiça-, Moro vaza para a imprensa o conteúdo de uma delação de Palocci, que de tão imprestável e inverossímil tinha sido rejeitada pelo próprio MP. A delação tem grande repercussão na imprensa. Só na edição do Jornal Nacional do dia do vazamento foram 9 minutos de porrada no PT.As pesquisas feitas nos dias subsequentes mostram o tamanho do estrago: o ritmo de crescimento de Haddad arrefece.
Decorridos seis meses de novo governo, o site The Intercept, em parceria com a Folha de São Paulo, Veja e Band, desvenda o conluio criminoso entre o juiz Moro e os procuradores da Lava Jato, tirando o véu da promiscuidade ilegal entre juiz e acusação. Tudo para evitar a volta do PT ao governo e ganhar a opinião pública para a condenação de um inocente.
Mesmo assim, é comum ouvir de amigos e respeitáveis quadros da esquerda a condenação à tese da ilegitimidade do governo Bolsonaro com base nos seguintes argumentos: “Ah, mas, para serem coerentes, as forças de oposição de esquerda teriam que ter se negado a participar das eleições. Apesar de tudo, Bolsonaro obteve 57 milhões de votos no segundo turno. Precisamos respeitar a soberania popular.”
No que se refere à não participação nas eleições, penso que seguir esse caminho seria um desastre de gigantescas proporções para os democratas e segmentos populares. Imagina se o rolo compressor do bolsonarismo e da direita neoliberal no Congresso Nacional não contasse com a resistência de um mísero deputado de oposição?
Sim, porque o boicote às eleições implicaria para a esquerda não contar com nenhum deputado federal, senador (dois terços deles foram eleitos no ano passado), deputado estadual ou governador. Desnecessário, portanto, considerações mais detalhadas sobre o impacto dilacerante desta ausência para o fiapo de democracia que nos resta e para o sofrido e espoliado povo brasileiro. Daí para o salve-se quem puder e para a barbárie seria um pulo.
Em algumas encruzilhadas da história, não resta outra opção que não seja a redução de danos. A meu ver a esquerda acertou em disputar as eleições, mas isso não significa legitimá-las, o que acaba acontecendo, na verdade, como consequência de sua postura atual de naturalizar, ou denunciar timidamente, as barbaridades cometidas pelas falanges fascistas a soldo de Bolsonaro na campanha.
E, sobre a soberania popular, podemos afirmar que a eleição de Bolsonaro a reduziu a pó, afrontando-a como poucas vezes se viu na história do país. Esgrimir, portanto, o compromisso com a soberania popular, sem dúvida o pilar fundamental de qualquer regime democrático, para rejeitar o questionamento da legitimidade do governo é um argumento que não resite a uma rápida confrontação com os fatos.