Por mais que vários veículos de comunicação estejam atuando em parceria com o The Intercept e divulgando os procedimentos criminosos da Lava Jato, não se vê da parte deles uma crítica aberta à conduta dos procuradores e juízes à altura da gravidade de tudo que foi denunciado até agora.
Nem mesmo a Folha de São Paulo, primeiro a se somar ao The Intercept na Vaza Jato, e que visivelmente tenta fazer um movimento para ganhar de novo a simpatia da classe média mais progressista, é capaz de cobrar a exoneração e a punição de Moro, Dallagnol e companhia, bem como a anulação das fraudulentas condenações de Lula.
Ao mesmo tempo em que resiste à ideologia bolsonarista no tocante às suas posições medievais em termos de comportamento e costumes, além de se opor aqui e ali à disseminação do ódio e da intolerância política por parte de Bolsonaro, a mídia apoia decididamente a pauta econômica ultraneoliebral do governo, que têm como pilares a entrega das riquezas estratégicas do país e roubo de direitos do povo.
Por isso, insiste em naturalizar uma aberração como Bolsonaro. E faz as contas: se a Lava Jato ruir, leva de roldão seu filho dileto que ocupa a cadeira presidencial. Sim, porque a cada dia fica mais evidente que Bolsonaro é produto direto da corrupção e da partidarização de largas parcelas do sistema criminal de justiça, lideradas pela força-tarefa de Curitiba.
É de uma clareza solar, portanto, que o oligopólio midiático não irá além de determinados limites em relação à Lava Jato. Neste domingo, por exemplo, a Folha de São Paulo publicou aquela que está sendo considerada por muitos a mais grave das manipulações à margem da lei por parte da Lava Jato: a trama contra a democracia e o Estado brasileiro que resultou na divulgação seletiva dos grampos ilegais de Lula e Dilma. Contudo, hoje o jornal paulista simplesmente ignora o manifesto assinado por 150 juristas brasileiros exigindo providências imediatas contra Moro e os procuradores.
A bola agora está com o STF. Se mantiver a conivência exibida no golpe sem crime que apeou a legítima presidenta do governo e durante a sórdida perseguição judicial e prisão política de Lula, podemos ter certeza que o Brasil se transformou inexoravelmente num puteiro, com todo respeito às putas. Mas, se anular a condenação de um inocente e fizer com que os corruptos togados paguem pelos seus crimes, pode ser que ainda reste um fiado de esperança no resgate da democracia.
Mas não alimento ilusões : oxalá esteja errado, mas penso que o Supremo seguirá sendo Supremo.