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As retaliações de Cunha para fugir da Lava Jato

Jul 17, 2015

Por Patricia Faermann

 

 
Jornal GGN - Depois de um dos delatores da Operação Lavas Jato, Júlio Camargo, afirmar que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cobrou US$ 5 milhões de propina em um contrato da Petrobras, e além dele, Alberto Youssef confessar as tentativas de Cunha de retaliar sua família por meio de terceiros - ato também comunicado por Júlio Camargo, o presidente da Casa sente os efeitos da investigação cada vez mais próxima e pede o rompimento do PMDB com o governo Dilma.
 
Camargo é consultor da Toyo Setal e teria atuado em diversas articulações da Petrobras no repasse de propinas em contratos. Em um deles, referente aos navios-sonda da Petrobras, Cunha teria pedido os milhões de propina diretamente ao consultor. A declaração à Justiça Federal do Paraná ocorreu nesta quinta-feira (16). O motivo de Júlio Camargo não assumir antes foi, segundo ele, o medo de retaliação à sua família. 
 
"Todo homem que é responsável é obrigado a ter medo e receio. E uma pessoa que age não diretamente, e tem que ameaçar você através de terceiros, já é uma pessoa a quem deve se ter todo cuidado", disse Camargo no depoimento ao juiz Sergio Moro, na tarde desta quinta.
 
"Estamos falando de uma pessoa que, dizia ele, tinha o comando de 260 deputados no Congresso –e na eleição para líder do Congresso [presidente da Câmara dos Deputados], na minha opinião, isso se constatou", completou.
 
É a primeira vez que o executivo cita o nome de Eduardo Cunha como destinatário da propina. O montante teria sido enviado por Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, apontado como o operador do PMDB nos tratados com a Petrobras.
 
Júlio Camargo confirmou as informações que Youssef já havia delatado.
 
Disse que o repasse ocorreu depois da pressão de Cunha, por meio de requerimentos apresentados na Câmara dos Deputados de investigação contra Camargo e a empresa Mitsui nos contratos com a estatal. 
 
Cunha teria na Petrobras um complexo esquema para financiar a sua campanha eleitoral de 2010, com diversas empreiteiras - UTC, Queiroz Galvão, Samsung, etc -, junto a diversos lobistas, e em duas áreas importantes da estatal (de Abastecimento e Internacional), elaborado sob cálculos para não deixar resquícios, e utilizando-se de pressão, ameaçando desbaratinar todo o esquema, em momentos de desagrado.
 
Cunha teria se favorecido nas licitações para o aluguel de um navio plataforma, junto à área Internacional da Petrobras, então comandada por Nestor Cerveró. Para que a Samsung vencesse o contrato, precisaria pagar uma quantia de propina a integrantes do PMDB, “notadamente o deputado federal Eduardo Cunha”, já havia dito em depoimento o doleiro Alberto Youssef.
 
Júlio Camargo trabalhava como "broker" (o intermediário) para a Samsung, repassando os valores ao lobista Fernando Baiano, que representava Cunha. Quando Camargo parou de receber a quantia da própria Samsung, o intermediário também deixou de pagar os valores a Eduardo Cunha. Foi quando o presidente da Câmara abriu representação na Câmara, solicitando informações sobre as empresas de Julio: Mitsui, Toyo, junto à Petrobras.
 
As informações já eram conhecidas pelos depoimentos de Youssef. Foram nesta quinta-feira (16) confirmadas por Camargo.
 
"Tivemos um encontro: o deputado Eduardo Cunha, Fernando Soares e eu. Eu fui bastante apreensivo. O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de US$ 5 milhões", disse. "E que isso estava atrapalhando, porque estava em véspera de campanha, se não me engano, era uma campanha municipal, que ele tinha uma série de compromissos, que eu vinha alongando esse pagamento há bastante tempo e que ele não tinha mais condição de aguardar", continuou.
 
O juiz federal Sergio Moro interrompeu Camargo, afirmando que as informações já estavam na Procuradoria-Geral da República e que ele não se detesse no assunto "para não prejudicar a apuração" em curso em Brasília.
 
Próximos passos
 
O episódio da confirmação de Júlio Camargo estreita ainda mais as investigações que já estão a nível da Polícia Federal, para recolhimento de provas e mandados de busca e apreensão. Nesta terça-feira (14), o foco dos mandados estava concentrado em um único inquérito - Inq. 3883 - enviado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao ministro do STF Teori Zavascki. Todos os alvos dos mandados realizados estão presentes no documento que investiga o esquema a que o senador Fernando Collor (PTB-AL) teria se beneficiado. 
 
Além do inquérito 3883, Janot enviou somente outro pedido direto de abertura de inquérito, pulando o processo peticional, por considerar que outras provas deveriam ser recolhidas para efetivar uma possível abertura de processo. 
 
Trata-se do inquérito 3963, que solicita mais investigações sobre o senador Antonio Anastasia, o ex-deputado federal Luiz Argolo e o deputado presidente da Casa, Eduardo Cunha.
 
Se seguir a lógica de prioridades que teve com as investigações de Collor, os políticos Cunha, Anastasia e Argolo serão os próximos alvos de mandados da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. 

 

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