Nada acontece por acaso. Só nesta terça-feira, graças à minha amiga jornalista Dina Amendola, que me enviou o texto por e-mail, pude ler o artigo de Vladimir Safatle publicado na página de opinião do jornal espanhol El País, no último dia 14 de setembro.
No momento em que o mundo está virado de pernas para o ar, com rebeliões populares pipocando por toda parte contra a ordem constituída, este artigo vai na contra-mão dos que pregam o diálogo para encontrar soluções pacíficas às crises políticas, sociais e econômicas deflagradas pelo modelo neoliberal vigente que só aumenta a desigualdade social.
Sobreviventes da Segunda Grande Guerra, meus pais vieram para o Brasil em busca de paz e não gostavam nem de lembrar os horrores que viveram para escapar das bombas e da fome, o que talvez explique minha aversão a conflitos.
Pacato professor de filosofia da USP, Safatle me fez pensar, diante da trágica realidade em que vivemos hoje no país, e da completa inação da população, se não é hora de mudar nosso comportamento conformista e condescendente.
Tenho pavor de violência, nunca peguei numa arma nem de brinquedo, não posso ver sangue e gente ferida nem em filmes de guerra, passo ao largo de acidentes na rua ou na estrada, abomino esses programas policiais da TV.
Pois bem, mexeu muito comigo esta outra visão da realidade que me foi apresentada pelo professor Safatle.
Na abertura da matéria, ele resumiu assim seu pensamento bastante original sobre o Brasil:
“Se há algo que marcou o Brasil nos últimos trinta anos foi a profusão de diálogo, quando muitas vezes é necessário dar forma à recusa clara em dialogar. Não é de diálogo que o Brasil precisa. É de ruptura”.
Como se daria esta ruptura? Esta é a dúvida que me ficou na cabeça ao terminar de ler o artigo reproduzido abaixo para a reflexão dos leitores.
Em vários países aqui ao lado, nos últimos dias, o povo está dando a resposta nas ruas, em grandes manifestações, como há tempos não se via, enfrentando uma repressão brutal dos governos de plantão.
Sempre é bom confrontar as nossas certezas com quem pensa diferente.