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Por que não ir às ruas?

Out 23, 2019

Ricardo Kotsho, no Balaio do Kotsho                                                                             

 

Nada acontece por acaso. Só nesta terça-feira, graças à minha amiga jornalista Dina Amendola, que me enviou o texto por e-mail, pude ler o artigo de Vladimir Safatle publicado na página de opinião do jornal espanhol El País, no último dia 14 de setembro.

Entre o balaio de mensagens que recebo todos os dias, esta me chamou a atenção pelo título “Chega de diálogo”.

No momento em que o mundo está virado de pernas para o ar, com rebeliões populares pipocando por toda parte contra a ordem constituída, este artigo vai na contra-mão dos que pregam o diálogo para encontrar soluções pacíficas às crises políticas, sociais e econômicas deflagradas pelo modelo neoliberal vigente que só aumenta a desigualdade social.

Sobreviventes da Segunda Grande Guerra, meus pais vieram para o Brasil em busca de paz e não gostavam nem de lembrar os horrores que viveram para escapar das bombas e da fome, o que talvez explique minha aversão a conflitos.

Pacato professor de filosofia da USP, Safatle me fez pensar, diante da trágica realidade em que vivemos hoje no país, e da completa inação da população, se não é hora de mudar nosso comportamento conformista e condescendente.

Tenho pavor de violência, nunca peguei numa arma nem de brinquedo, não posso ver sangue e gente ferida nem em filmes de guerra, passo ao largo de acidentes na rua ou na estrada, abomino esses programas policiais da TV.

Sou, enfim, já passado dos 70, um cidadão absolutamente pacífico e inofensivo, que sempre lutei como repórter apenas com as palavras por democracia, liberdade e justiça social, denunciando o que está errado e louvando o que bem merece. Em uma palavra, me qualificaria como um humanista, como se dizia antigamente.

Pois bem, mexeu muito comigo esta outra visão da realidade que me foi apresentada pelo professor Safatle.

Na abertura da matéria, ele resumiu assim seu pensamento bastante original sobre o Brasil:

“Se há algo que marcou o Brasil nos últimos trinta anos foi a profusão de diálogo, quando muitas vezes é necessário dar forma à recusa clara em dialogar. Não é de diálogo que o Brasil precisa. É de ruptura”.

Como se daria esta ruptura?  Esta é a dúvida que me ficou na cabeça ao terminar de ler o artigo reproduzido abaixo para a reflexão dos leitores.

Em vários países aqui ao lado, nos últimos dias, o povo está dando a resposta nas ruas, em grandes manifestações, como há tempos não se via, enfrentando uma repressão brutal dos governos de plantão.

Sempre é bom confrontar as nossas certezas com quem pensa diferente.

 

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