O ex-presidente Lula dá hoje o segundo passo mais importante desde que o Supremo Tribunal Federal determinou que deixasse a prisão de Curitiba, mês passado.
Por maioria expressiva (54% a 42%) a pesquisa Datafolha desmonta o argumento de que a maioria dos brasileiros o queria preso, fora da vida política do país.
A maioria quer o contrário, e ela é imensa entre os mais pobres (63%), entre os muitos desempregados (68%), entre os nossos irmãos negros (62%) e os nordestinos (71%) e ainda os jovens (61%).
São números que devem aumentar com o passar dos dias, à medida em que se dissolver o discurso estúpido que Lula, livre, é uma ameaça à segurança nacional ou à ordem pública, argumentos estúpidos que foram usados para mantê-lo encarcerado e acenar, até, com “AI-5” diante de sua retomada como líder de massas.
E que ainda interditavam, em parte, os caminhos para que o ex-presidente fizesse, abertamente, aquilo que de melhor faz: conversar, agregar, reunir.
Porque o Brasil viveu tal e tamanho processo de intoxicação política que muitos achavam que aproximar-se de Lula “queimava” e que, ao contrário, vociferar contra ele atraía a simpatia pública – e não é minha culpa se você pensou em Ciro Gomes.
Aliás, estes obstáculos eram argumento francamente disseminado e não duvide que os resultados anteriores, contrários a este, tivessem uma carga de medo de quem dizia que era justo mantê-lo preso porque este era o “pensamento único” que se permitia.
Foi-se a ideia, amplamente propagada, que a cassação política de Lula correspondia à vontade da maioria.
Vocês verão que, a partir de agora, as conversas de Lula irão multiplicar-se e, sobretudo, se diversificarem. Os resultados mostram que o prestígio do ex-presidente, senão incólume, resistiu sem danos irreversíveis nos setores onde sempre esteve nucleado.
Sofreu, é verdade, entre a classe média criada, em parte, por suas próprias políticas de elevação de renda e entre os empresários, que nunca antes na história deste país tiveram tantas condições de produzir e progredir. Nestes grupos, sim, o desempenho econômico do governo Bolsonaro pode e vai influir, metidos que estamos na falta de rumos e soluções para a crise.
No povão, ao contrário, ele segue sendo a face da esperança, a querência amada, como dizem os gaúchos, onde mesmo longe dela por muitos anos, o vivente se sente acolhido, respeitado, protegido.
Representavidade social não se conquista com ondas de propaganda, urros de selvageria, ódios profundos ou simpatias fugazes.
Isso pode produzir surtos, poeira que se levanta e cega, mas que não sepulta o que a história construiu.
O processo social, como quem escava suas origens, vai buscar o elo que lhe permite reatar o fio de sua história.