Por todas as pesquisas feitas com metodologia científica e por institutos com tradição no mercado e nome a zelar, Bolsonaro é o presidente mais mal avaliado para este período de mandato desde o fim da ditadura militar, perdendo até para Sarney e Collor.
Mas parte do campo progressista insiste em dar crédito para institutos mambembes que fazem consultas por telefone ou pela internet e apontam a recuperação da aprovação do governo Bolsonaro e de sua popularidade.
XPs, MDAs e Paranás Pesquisas da vida (o mesmo instituto que a alguns dias do segundo turno, em 2014, registrou uma vantagem pró-Aécio de 20 pontos percentuais) passaram recentemente a divulgar também sondagens sobre a eleição de 2022 (como se isso tivesse algum valor real três anos antes), nas quais o capitão da reserva aparece como favorito.
E não foram poucas as pessoas de esquerda que se deixaram levar por essas bobagens, porque mesmo se esses levantamentos tivessem alguma seriedade, é inconcebível que se despreze a dinâmica de campanha como fator decisivo em qualquer eleição, além, obviamente, da infinita capacidade que Bolsonaro possui de fazer merda.
O presidente desde que tomou posse só fala e age para seu séquito de anencéfalos, hoje menos de um terço do eleitorado. Ele desconsidera o óbvio ululante de que como presidente da República tem o dever republicano de se dirigir o tempo inteiro a todos os brasileiros, seus eleitores ou não.
No entanto, teve gente da banda civilizada da sociedade a elogiar a estratégia bolsonarista de manter acesa a centelha do obscurantismo, cevando sua matilha diariamente com rações generosas de ódio e toda sorte de preconceito. Esses analistas ligados à militância democrática conseguem enxergar racionalidade política em uma banana para 70% da população.
Bolsonaro só ganhou a eleição de 2018 devido a uma sucessão de manipulações à margem da lei e ao arrepio do estado democrático de direito. Para começar, o principal candidato da oposição foi preso e impedido de concorrer.
O candidato da extrema direita se negou a participar de debates e fez uma campanha imunda e criminosa, apelando para a injúria, a calúnia e a difamação contra Fernando Haddad e Manuela D’Ávila.
Tudo financiando com dinheiro de empresários, o que é vedado por lei. Além disso, escondeu sua estupidez atávica em uma enfermaria de hospital, depois de uma facada cada vez mais esquisita.
Para meu espanto, porém, cheguei a ouvir pessoas de cabeça progressista tachando de inteligente e impecável a tática eleitoral de Bolsonaro nas eleições.
Na realidade, a postura irresponsável e genocida de Bolsonaro diante da tragédia sanitária causada pela disseminação da pandemia do coronavírus, e que caminha a passos largos para empurrar o Brasil para um desastre social e econômico sem precedentes, não devia surpreender ninguém.
Um número expressivo de cidadãos e cidadãs, em pleno confinamento, está nas janelas de suas casas a execrar Bolsonaro. Embora seja um fenômeno ainda concentrado na classes média e alta, dá para cravar que também no povão o apoio a Bolsonaro se esfarela. No entanto, se déssemos a sorte de não haver o coronavírus, mais cedo ou mais tarde, Bolsonaro cairia em desgraça, porque proceder como um moleque faz parte de seu DNA. As circunstâncias que o levaram à presidência da República são singularíssimas e não se repetirão tão cedo.