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Quando cálculo político demais atrapalha

Abr 12, 2020

Por Bepe Damasco                                                                                                                         

   

Esperei a poeira assentar um pouco para comentar a decisão da direção nacional do PT de não endossar no momento a campanha “Fora Bolsonaro”.  Na minha visão, trata-se de um caso típico de acerto na linha geral do diagnóstico, mas erro no medicamento receitado.

Explico: a resolução analisa corretamente a realidade, apontando como prioridade absoluta o combate à pandemia; constata com precisão a impossibilidade de tramitação no Congresso Nacional, nesta quadra dramática da vida do país, de um processo de impeachment; e aponta o isolamento social como obstáculo intransponível para as mobilizações de rua em favor do afastamento de Bolsonaro.

Para um partido de esquerda, esse último ponto tem importância crucial, porque é inadmissível a legitimação de um processo de impeachment sem respaldo popular.

Na radiografia que o PT faz do desgoverno atual, embora estejam presentes os elementos que expõem a total incapacidade de Bolsonaro de governar o país, há uma derrapada, que é a minimização dos crimes de responsabilidade, ou pelo menos a falta de ênfase nesse aspecto. Desde sua posse, é público e notório que Bolsonaro vem cometendo sucessivos crimes de responsabilidade (dá até preguiça de listá-los de tão óbvios que são), contando com o beneplácito do Congresso Nacional e do Judiciário.

Disto isto, vamos ao mérito da resolução do diretório nacional petista. Quando falo no equívoco no remédio receitado refiro-me ao seguinte: não custava nada ter adotado a palavra de ordem “Fora Bolsonaro”, mesmo sabendo que uma campanha desta envergadura terá poucas consequências práticas no momento.

Um pouco de ousadia no lugar de cálculo político exagerado às vezes é recomendável. Se a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” move e inspira os panelaços diários e avança fortemente nas redes sociais (únicas expressões possíveis da militância democrática atualmente), por que não adotá-la?

Nem que seja como instrumento de agitação política e para sintonizar o partido com os movimentos sociais que já empunham essa bandeira. É preciso levar em conta também o peso das posições do Partido dos Trabalhadores entre os lutadores políticos e sociais do país.

Cedo ou tarde a campanha pela saída de Bolsonaro estará no centro da conjuntura, uma vez que não há no horizonte a mais ínfima possibilidade de Bolsonaro parar de falar e fazer merda.

Além disso, há clima e efervescência política suficientes na sociedade para uma forte mobilização com esse objetivo. E essa panela de pressão só não explode devido à luta pela vida imposta pela pandemia do coronavírus. E depois de passada a tormenta?

A adoção do “Fora Bolsonaro” teria também o condão de expressar com a veemência necessária a rejeição visceral do PT ao descalabro político, econômico, administrativo, social, cultural e ambiental que representa o governo Bolsonaro, cuja cruzada contra os direitos humanos mais elementares choca a comunidade internacional.

É inegável que a prioridade absoluta deve ser a luta pela saúde e pela vida dos brasileiros e das brasileiras, como defende o PT. Mais um forte motivo, portanto, para que se fortaleça politicamente desde agora, ainda que para colher frutos mais à frente, a tese da necessidade do afastamento de Bolsonaro.

Afinal, ele é o maior empecilho hoje no Brasil ao combate à Covid-19. Como até o prefeito tucano de Manaus Artur Virgílio reconhece em entrevista neste domingo de Páscoa à Folha de São Paulo, “Bolsonaro é o maior aliado do vírus.”

 

 

                                                                                                                 

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