A promessa feita pelo ministro da Saúde, Nelson Teich, de adquirir 46 milhões de testes para o novo coronavírus é quase impossível de ser cumprida. A avaliação é dos ex-ministros da Humberto Costa e Alexandre Padilha. Ambos consideram que a ausência de planejamento e de orçamento por parte do governo Bolsonaro tornam a promessa, feita no início da semana, uma “ilusão”.
A ampliação dos testes para coronavírus é uma orientação global da Organização Mundial de Saúde (OMS). O Brasil, porém, é o país que menos testagens realiza entre os 15 com maior número de casos – segundo a fundação Johns Hopkins, referência mundial para informações sobre a epidemia, estamos em 11º em número de casos, apesar da subnotificação admitida pelo próprio governo.
Desde o início da pandemia, segundo Padilha, o país não conseguiu completar 300 mil testes. A meta anterior, da gestão de Luiz Henrique Mandetta, também sem prazo para ser alcançada, era de 24 milhões de testes. E até a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um dos principais centros de excelência em pesquisa do setor, prevê conseguir disponibilizar 11 milhões de testes de coronavírus somente em setembro.
Missão do novo ministro da Saúde é salvar Bolsonaro, não o Brasil
Teich decidiu dobrar a meta sem oferecer condições de a realizar. O ministro empossado na semana passada incomoda seus antecessores por ter como preocupação principal não o aprimoramento dos diagnósticos para dimensionar as necessidades de medidas de proteção, mas tentar atender ao interesse do presidente Jair Bolsonaro – acabar com as medidas de isolamento social para evitar prejuízos à economia.
Daqui a 17 anos
Alexandre Padilha (PT-SP), que é infectologista e deputado federal (PT-SP), observa que a promessa do atual ministro da Saúde é 10 vezes superior ao que os Estados Unidos fizeram até agora – “pouco mais de 4 milhões de testes”. E avalia que a inexperiência de Teich pode tornar a crise ainda mais grave. “Ou o novo ministro da Saúde não conhece nada do que está se fazendo no mundo e no Brasil para o enfrentamento da covid-19, ou ele está adotando a tática de espalhar fake news com números fora da realidade e superestimados”, afirma.
“No ritmo atual, o governo levaria 17 anos para testar os 25% da população como Teich propõe”, calcula Humberto Costa, também médico e senador (PT-PE). “Faltam transparência e informação técnica. Onde o governo vai comprar esses testes? De onde surgiu essa meta de 46 milhões e que insumos serão usados se forem produzidos no Brasil?”, questiona o parlamentar. Nesta quarta-feira (22), o Brasil atingiu 44 mil casos confirmados e passou a casa de 2.800 mortos.
Padilha observa que o governo Bolsonaro não foi sequer capaz de garantir equipamentos de proteção aos profissionais de saúde e falha gravemente na gestão da ameaçadora crise sanitária do país. “Milhares de brasileiros estão nas filas de UTI e cada vez mais cresce o número de prefeitos e governadores que reclamam da falta de recursos e equipamentos do governo federal para reforçar o Sistema Único de Saúde.
Humberto Costa diz que cinco dias depois de ter tomado posse Nelson Teich até agora não disse a que veio nem expôs como vai lidar com a pandemia ou que providências estão sendo adotadas para evitar o colapso do sistema público de saúde. “O ministro é omisso, já não publica balanços da pandemia no Brasil, e não opina sobre as propostas de relaxamento do isolamento social.”