Nos últimos anos, em sua casa à beira do rio Guaíba, o advogado e político Carlos Araújo transformou-se em uma espécie de guru de parte do mundo político. Em parte pelo fato de ser ex-marido, amigo, e um dos conselheiros da presidente Dilma Rousseff. Muito pela visão política e estratégica e pela abertura de se relacionar com políticos de todos os quadrantes.
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Embora não seja muito ouvido – como todos os conselheiros da presidente - coube a ele o aconselhamento para que Dilma levasse para o Ministério o deputado Eliseu Padilha, considerado grande articulador da base.
Meses atrás, quando se montou a enorme frente para derrubar Dilma, Araújo manteve o sangue frio e previu que era questão de tempo para a frente se esfacelar, devido à sua heterogeneidade e aos efeitos futuro da Lava Jato.
Na semana passada, sua previsão se confirmou.
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Em pleno tiroteio, com campanhas pelo impeachment e passeatas monumentais, Araújo se mostra tranquilo. Para tirar Dilma, só atropelando a Constituição e as leis, diz ele. E o país cresceu o suficiente para não aceitar mais essas aventuras. Por seus cálculos, bastariam 171 deputados ou 23 senadores para brecar qualquer tentativa de impeachment.
Além disso, seu cenário futuro prevê uma recuperação da economia até o final do ano. E, para ele, a crise política é decorrência única do mal-estar econômico. A crise desbasta a popularidade da presidente e os deputados da base não querem associar sua imagem a de uma presidente desgastada.
Esse círculo vicioso será interrompido, diz Araújo, assim que a economia mostrar os primeiros sinais de recuperação.
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Araújo tem plena confiança na habilidade política e na lealdade do vice-presidente Michel Temer. E Dilma tem também.
Sua noção de política segue a do seu guru Getúlio Vargas. A caminhada política de Araújo começou pelo Partido Comunista, na juventude. Com a morte de Getúlio e a divulgação dos crimes de Stalin, percebeu que os comunistas não tinham pátria, projeto e povo. Saiu do Partidão, passou pela luta armada e, depois de solto, ingressou no trabalhismo. Só se muda um país com um projeto nacional, diz ele, algo que ia contra o pensamento internacionalista do Partidão.
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Dilma acompanhou-o nessa trajetória política. E, através desse aprendizado, deu-se conta de que um projeto de país não pode ser exclusivista, ideologicamente fechado e maniqueísta. Tem que envolver os trabalhadores, o empresariado e todos os setores econômicos e sociais, sem abdicar dos princípios da luta pela inclusão e pela igualdade.
Conhece como poucos os detalhes da vida de Vargas e gosta de relembrar Vargas presidente, montando um ministério conservador. Quando os aliados vieram cobrar dele esse paradoxo, sua resposta foi objetiva: vocês já têm o presidente, não precisam de mais.
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Não tem afinidade com o PT nacional e o estadual, mas nutre profunda admiração por Lula. Analisa que todo o terremoto de agora não visa tirar Dilma mas antecipar a batalha de 2018. Tem certeza de que, em qualquer situação, Lula é favorito. “Ele sabe tirar votos da cartola”, diz Araújo.
Uma das grndes dificuldades em enfrentar a crise é o esfacelamento do poder em todos os níveis – inclusive na oposição – e a falta de estadistas capazes de organizar o caos. Em sua opinião, o único estadista atual é Lula, mas seria ótimo se a oposição tivesse alguém com capacidade de unificar o discurso.
Acha que Aécio Neves se isolou no PSDB, com os demais caciques pulando fora da tática incendiária.
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Para Dilma completar a travessia da crise, falta um projeto de país, diz ele, admitindo que se avançou pouco nessa direção.