Quanto mais manifestos melhor para as forças democráticas e de esquerda, pois aumentam o desgaste e o isolamento do capitão nazista, além de formalizar a indignação crescente e difusa de amplos setores da sociedade, em tempos de isolamento causado pela pandemia assassina, com a escalada autoritária de Bolsonaro que levou o país ao abismo atual.
Penso que muitos estão fazendo confusão. Manifestos, sejam eles assinados por intelectuais, artistas, juristas, militantes dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais, ou por liberais de direita arrependidos, não são programas de governo. Tampouco apontam diretrizes econômicas e de desenvolvimento social de um movimento político rumo à tomada do poder.
Surgidos em um momento histórico dramático, eles se inserem na luta essencial hoje travada no Brasil entre a civilização e a barbárie. Vistos através deste prisma, projetos, protagonismos e legítimos interesses partidários devem ser postos temporariamente de lado.
Até porque pensar em 2022 pode ser inútil, uma vez que a própria realização da eleição corre risco devido à intenção cada vez mais aberta de Bolsonaro de implantar uma ditadura.
Assinar manifestos junto com figuras que apoiaram a destituição sem crime de uma presidenta honesta e legítima não tem o condão de eliminar as nossas abissais diferenças e transformar golpistas e lavajatistas em democratas da noite para o dia.
Tampouco nos fará parceiros e aliados dos que aplaudiram a caçada infame sofrida por Lula, que culminou com sua prisão, condenado em processos fajutos, feitos sob encomenda para alijá-lo de uma eleição que fatalmente venceria. Concordo que nada disso pode ser esquecido.
A hora de acertar as contas na política com os golpistas que hoje assinam manifestos em defesa da democracia vai chegar
Mas pergunto: em que cenário temos mais condições de infringir uma derrota a essa gente, na democracia ou na ditadura?
Trata-se apenas, portanto, de um movimento pontual para impedir a destruição do fiapo que sobrou do estado democrático de direito. Isso não quer dizer, é claro, que os signatários desses textos pertencentes ao campo popular não devam lutar pela inclusão de questionamentos ao ultraneoliberalismo de Paulo Guedes e por um ponto final na liquidação selvagem nos direitos dos trabalhadores e do povo.
Vejo com preocupação ainda a supervalorização desses manifestos, encarados, ingenuamente, como o lance final da partida, aquele gol feito nos acréscimos que mal dá tempo para o adversário dar a nova saída. Nunca, jamais, em tempo algum se teve notícia de presidentes que perderam o mandado devido a lançamentos de manifestos. Em que pese sua importância, são apenas trincheiras da longa batalha pela preservação da democracia.
As torcidas organizadas antifascistas dos grandes clubes brasileiros que o digam.