O dossiê que o deputado Douglas Garcia (SP) divulgou contra supostos manifestantes antifascismo “parece aquelas listas dos anos 60 do DOI-CODI de perseguição aos comunistas”. A avaliação foi feita pelo enfermeiro Victor Rodrigues, de 23 anos, um dos jovens que teve os dados vazados a pedido do parlamentar bolsonarista.
Na quinta (4), Garcia anunciou em suas redes sociais o fruto do trabalho colaborativo realizado em parceria com seus seguidores, após as manifestações democráticas do domingo, 31 de maio. O dossiê, com quase mil páginas, atingiu jovens paulistas adeptos de uma estética Punk ou Hard Core, alguns ligados ao movimento feminista ou torcidas organizadas, filiados ou não a partidos de esquerda.
Foi em entrevista à CartaCapital que Victor fez a comparação com a lista do DOI-CODI e afirmou que ficou preocupado quando percebeu que há muita informação sua agora exposta aos grupos de extrema-direita. Ele é filiado ao PCdoB e faz parte de movimentos como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União da Juventude Socialista (UJS). Victor abriu um Boletim de Ocorrência e informou que um grupo prepara uma ação coletiva contra o deputado.
Segundo CartaCapital, o que o deputado Garcia fez, vazar o dossiê construído com ajuda de terceiros, não é considerado crime no Brasil. Ainda assim, Garcia já acumula alguns pedidos de cassação e investigação no Ministério Público.
A deputada Isa Penna abriu uma representação no MP-SP pedindo que seja investigada a origem de dossiê. No documento, ela anotou que a intenção do deputado foi vazar a lista antifascista para causar “intimidação e violência”.
Penna e Mônica Seixas, deputada da Bancada Ativista, também entraram com um pedido de cassação do mandato no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo. Elas alegaram que Garcia “cria fake news ao afirmar que ser antifascista é crime, que pertencem a organização criminosa, terroristas, no mais incita a violência, ao divulgar a suposta lista afirmando tratar-se de lista de ‘criminosos'”.
O Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos) pediu investigação ao Ministério Público sobre o caso. “Embora seja portador de diferentes atribuições institucionais, não está nenhum parlamentar autorizado a exercer função típica de polícia judiciária, exceto no exercício de prerrogativa de comissão parlamentar de inquérito”, afirmou em documento. Garcia, porém, está impedido de participar de CPI porque está suspenso do partido, o PSL, desde o final de maio.