Que o TSE não se atreva a cassar a chapa Bolsonaro-Mourão devido à fábrica de fake news regada com dinheiro ilegal durante a campanha eleitoral de 2018.
Que o Congresso Nacional não ouse votar o impeachment do capitão, mesmo diante da quantidade inacreditável de crimes de responsabilidade cometidos por ele, agressões em série à Constituição e da política de saúde genocida que contribuiu para a morte de mais 40 mil pessoas.
Afinal, os militares se sentem acima dos poderes constitucionais. Esse é o claro recado dado pela nota conjunta assinada por Bolsonaro, o vice Mourão e o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo. A ameaça de ruptura e a chantagem não poderiam ser mais explícitas.
Quando dizem que as forças armadas não cumprem “ordens absurdas”, nem “aceitam tentativas de tomada de poder por outro poder da República ou por conta de julgamentos políticos” estão evidentemente mirando as duas hipóteses de interrupção institucional do desgoverno neofascista: a cassação via justiça eleitoral ou um processo de impedimento levado a cabo pela Câmara dos Deputados e pelo Senado.
Como nos transformamos no país dos absurdos – que se sucedem e se superam dia após dia -, esse comunicado governamental chantagista não teve o repúdio merecido por parte da oposição.
Elevando o tom das ameaças, o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da secretaria de governo, em entrevista à Veja, disse que as forças armadas não pretendem dar um golpe, mas o "outro lado deve saber que não pode esticar a corda.” Ou seja, o general confessa que as forças armadas, instituição de Estado, e não de governo, têm lado na política brasileira. E não é o da democracia.
Por esticar a corda entenda-se a reação das instituições democráticas às atrocidades cometidas por Bolsonaro.
Por esticar a corda, leia-se o acionamento do sistema republicano de freios e contrapesos para, minimamente, conter as investidas antidemocráticas e totalitárias do presidente.
Por esticar a corda compreenda-se o avanço das manifestações de rua contra o governo.
Argumentos respeitáveis surgem no debate da oposição e da esquerda sobre a iminência ou não de um autogolpe por parte de Bolsonaro.
Há os que acham que o golpe não se consumará porque os militares já estão no poder, ocupando inclusive mais postos relevantes do que na própria ditadura.
Para outros, o governo testa os limites institucionais e o nível de consolidação do estado democrático de direito o tempo todo, preparado o terreno para romper de vez com a democracia.
Também não falta o entendimento de que Bolsonaro hoje não tem apoio suficiente na sociedade, na mídia, no Congresso e no Judiciário para rasgar a Constituição.
Mas dá para cravar que um golpe hoje encontraria forte resistência interna e na comunidade internacional. Longe de ser um passeio no parque, mantê-lo seria até mais difícil do que executá-lo.
É bom que estejamos preparados para todos os cenários. O alerta dos traidores de farda que bajulam Bolsonaro evidencia que o tão propalado e fajuto compromisso dos militares com a Constituição só tem validade se seu chefe não for incomodado por decisões do STF, TSE e Congresso Nacional