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Brasil pode ter um milhão de infectados pelo coronavírus antes do fim de junho

Jun 14, 2020

Por Nara Lacerda, no Brasil de Fato                                                                                              

 

Uma semana após Jair Bolsonaro ter comemorado o atraso na divulgação de dados relativos ao avanço da pandemia do coronavírus no Brasil, o país se tornou a segunda nação do mundo com maior número de mortos por causa da covid-19. Na sexta-feira (12), as confirmações de óbitos chegaram a 41.828, número que só está abaixo do registrado nos Estados Unidos.

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O Brasil já era o segundo com maior número absoluto de casos em todo o mundo desde o dia 23 de maio. A velocidade do avanço da pandemia aumenta a cada semana e traz perspectivas extremamente negativas. Já são mais de 820 mil casos. Caso o ritmo atual se mantenha, o país terá um milhão de infectados ainda na terceira semana de junho.

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O médico de família, Aristóteles Cardona, da Rede de Médicos e Médicas Populares, afirma que o país caminha para ser o mais atingido pela covid-19 em todo o mundo.

“O que mais choca e o que mais nos preocupa é que a gente está ocupando esse posto de segundo lugar, e todas as estimativas nos colocam nas próximas semanas assumindo o primeiro lugar do mundo em mortes. Isso é terrível. Claro que a gente tem um país que é um dos maiores do mundo. Mas pelo tempo que a gente teve aqui antes da chegada do vírus, a gente poderia ter tido um planejamento, a gente poderia ter uma série de ações combinadas entre os governos.”

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstrou preocupação com a ocupação das UTIs brasileiras. O diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, Michael Ryan, disse, em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, que o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda está suportando a demanda, mas que o alastramento do vírus pode reverter esse cenário.

"Ainda que alguns (locais) excederam 80% de ocupação de leitos de UTI, a maioria das áreas está abaixo disso (...) Alguns estão em um estágio crítico, acima de 90%. Está claro que algumas áreas do Brasil têm uma pressão no sistema de UTI. O sistema, como tal, não está saturado. Mas, em algumas partes do Brasil, há pressão significativa nas unidades de cuidados intensivos, na ocupação”, disse o especialista.

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Não foi a primeira vez, ao longo da semana, que os organismos internacionais especializados se mostraram preocupados com o cenário brasileiro, como já vem se tornando comum. Os alertas aumentam também frente ao fato de que a América Latina é considerada o novo grande foco de propagação do vírus no mundo.

O porta-voz do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Rupert Colville, se manifestou sobre as tentativas de minimizar os números e os sucessivos atrasos na divulgação por parte do governo federal.

"Durante uma pandemia como essa, transmitir informações para a população em cima do conhecimento disponível é obviamente a melhor maneira de evitar a propagação da covid-19, é essencial”.

A decisão do Ministério da Saúde de atrasar a divulgação de informações, e inclusive de suprimir dados, também causou reações no mundo. Agências de notícias como a Associated Press e Reuters publicaram matérias sobre o assunto. Jornais como The Guardian, Washington Post também repercutiram o tema. Na maioria dos casos, ganhou destaque o fato de Jair Bolsonaro ter comemorado a falta de dados, insinuando que, dessa forma, o trabalho da imprensa fica impossibilitado.

:: A irresponsabilidade da omissão ::

O médico Aristóteles Cardona lamenta a ação: “O primeiro elemento que é essencial para construção de uma política pública é a gente ter a real noção do que está acontecendo, é a gente ter números e transparência. (...) Eu pensava que com a evolução dos números, o governo não teria o que falar, porque estamos tratando de vidas. Mas foi um erro meu. Ele segue debochando".

2020: o ano em que invadimos hospitais

Na quinta-feira (13), o capitão reformado afirmou que os dados registrados no Brasil são exagerados. Em transmissão ao vivo pelas redes sociais ele disse que o governo tem informações de que o número total de mortes estaria inflado e que médicos e médicas vêm registrando como covid-19, causas de mortes por outras doenças. Bolsonaro não informou a origem da informação. Ele ainda chegou a convocar seguidores para que invadam hospitais e filmem supostos leitos de UTIs vazios.

No dia seguinte à fala de Bolsonaro, um grupo de cinco pessoas entrou no Hospital municipal Ronaldo Gazolla, unidade de referência no tratamento da Covid-19 no Rio, causando tumulto e citando o pedido de Bolsonaro de que apoiadores invadam os hospitais.

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