Uma semana após Jair Bolsonaro ter comemorado o atraso na divulgação de dados relativos ao avanço da pandemia do coronavírus no Brasil, o país se tornou a segunda nação do mundo com maior número de mortos por causa da covid-19. Na sexta-feira (12), as confirmações de óbitos chegaram a 41.828, número que só está abaixo do registrado nos Estados Unidos.
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O Brasil já era o segundo com maior número absoluto de casos em todo o mundo desde o dia 23 de maio. A velocidade do avanço da pandemia aumenta a cada semana e traz perspectivas extremamente negativas. Já são mais de 820 mil casos. Caso o ritmo atual se mantenha, o país terá um milhão de infectados ainda na terceira semana de junho.
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O médico de família, Aristóteles Cardona, da Rede de Médicos e Médicas Populares, afirma que o país caminha para ser o mais atingido pela covid-19 em todo o mundo.
“O que mais choca e o que mais nos preocupa é que a gente está ocupando esse posto de segundo lugar, e todas as estimativas nos colocam nas próximas semanas assumindo o primeiro lugar do mundo em mortes. Isso é terrível. Claro que a gente tem um país que é um dos maiores do mundo. Mas pelo tempo que a gente teve aqui antes da chegada do vírus, a gente poderia ter tido um planejamento, a gente poderia ter uma série de ações combinadas entre os governos.”
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstrou preocupação com a ocupação das UTIs brasileiras. O diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, Michael Ryan, disse, em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, que o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda está suportando a demanda, mas que o alastramento do vírus pode reverter esse cenário.
"Ainda que alguns (locais) excederam 80% de ocupação de leitos de UTI, a maioria das áreas está abaixo disso (...) Alguns estão em um estágio crítico, acima de 90%. Está claro que algumas áreas do Brasil têm uma pressão no sistema de UTI. O sistema, como tal, não está saturado. Mas, em algumas partes do Brasil, há pressão significativa nas unidades de cuidados intensivos, na ocupação”, disse o especialista.
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Não foi a primeira vez, ao longo da semana, que os organismos internacionais especializados se mostraram preocupados com o cenário brasileiro, como já vem se tornando comum. Os alertas aumentam também frente ao fato de que a América Latina é considerada o novo grande foco de propagação do vírus no mundo.
O porta-voz do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Rupert Colville, se manifestou sobre as tentativas de minimizar os números e os sucessivos atrasos na divulgação por parte do governo federal.
"Durante uma pandemia como essa, transmitir informações para a população em cima do conhecimento disponível é obviamente a melhor maneira de evitar a propagação da covid-19, é essencial”.
A decisão do Ministério da Saúde de atrasar a divulgação de informações, e inclusive de suprimir dados, também causou reações no mundo. Agências de notícias como a Associated Press e Reuters publicaram matérias sobre o assunto. Jornais como The Guardian, Washington Post também repercutiram o tema. Na maioria dos casos, ganhou destaque o fato de Jair Bolsonaro ter comemorado a falta de dados, insinuando que, dessa forma, o trabalho da imprensa fica impossibilitado.
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O médico Aristóteles Cardona lamenta a ação: “O primeiro elemento que é essencial para construção de uma política pública é a gente ter a real noção do que está acontecendo, é a gente ter números e transparência. (...) Eu pensava que com a evolução dos números, o governo não teria o que falar, porque estamos tratando de vidas. Mas foi um erro meu. Ele segue debochando".
2020: o ano em que invadimos hospitais
Na quinta-feira (13), o capitão reformado afirmou que os dados registrados no Brasil são exagerados. Em transmissão ao vivo pelas redes sociais ele disse que o governo tem informações de que o número total de mortes estaria inflado e que médicos e médicas vêm registrando como covid-19, causas de mortes por outras doenças. Bolsonaro não informou a origem da informação. Ele ainda chegou a convocar seguidores para que invadam hospitais e filmem supostos leitos de UTIs vazios.
No dia seguinte à fala de Bolsonaro, um grupo de cinco pessoas entrou no Hospital municipal Ronaldo Gazolla, unidade de referência no tratamento da Covid-19 no Rio, causando tumulto e citando o pedido de Bolsonaro de que apoiadores invadam os hospitais.