Chega a ser inacreditável a repercussão do artigo de O Globo, assinado pelo jornalista Ascânio Seleme, defendendo a tese sem pé nem cabeça de que está na hora da sociedade brasileira “perdoar” o PT. O fragilíssimo entendimento segundo o qual Ascânio falaria em nome dos Marinho provocou – e continua provocando- um terremoto no campo da esquerda.
O problema é que toda essa celeuma parte de uma premissa falsa, pois Ascânio hoje está longe de ser considerado porta-voz dos interesses políticos e empresariais da Globo. Isso só faria sentido há cerca de 30 anos. Explico: nos longínquos anos 90, o jornalista realmente era um dos mandachuvas do jornal O Globo, com grande poder de influência na linha editorial do veículo.
Em 2020, ele é quase um jornalista aposentado, limitando-se a assinar uma ou outra coluna no jornal. Cada um, evidentemente, acredita no que quer – ainda mais quando se trata de assunto tão instigante -, mas uma simples consulta ao Google seria suficiente para evitar desperdício de tempo e de energia política vital.
Qualquer empresa especializada em monitoramento das redes sociais pode atestar a avalanche de postagens a respeito do texto de Ascânio, sem falar dos artigos que inundaram blogs e sites.
A grosso modo os posicionamentos giram em torno de dois polos: dirigentes, militantes e simpatizantes do PT repudiam o “perdão” proposto pelo veterano jornalista e enfatizam, com toda razão, que é a Globo que deve ajoelhar no milho e pedir desculpas ao povo brasileiro.De outro lado, no afã de atingir o partido, os que se dizem “mais à esquerda do que o PT” correram para alertar sobre a iminência de um acordo nefasto entre Globo e PT.
A Globo sabe que, em relação ao PT, foi longe demais e cruzou o Rubicão. Não há no horizonte nenhum sinal de que a empresa pretenda se penitenciar pelo seu papel central no golpe de estado contra a presidenta Dilma, na perseguição e na prisão injusta de Lula e na destruição da engenharia nacional em aliança lesa-pátria com a Lava Jato.
Prova disso é que Lula, Dilma e todas as figuras públicas de expressão do partido continuam censurados pelo principal programa jornalístico da emissora, o Jornal Nacional.
Prova disso é que a Globo segue avalizando cegamente a cada vez mais desmoralizada Operação Lava Jato.
Prova disso é o prosseguimento evidente na aposta na candidatura presidencial do outrora poderoso Sérgio Moro.
Moral da história : na era da mentira, das fake news, checar e rechecar as notícias e suas versões é um procedimento de grande importância política.