“A história é como uma espiral. Volta sempre ao mesmo ponto alguns degraus acima”.
A frase, do maestro Hans-Joachim Koellreutter cai como uma luva para montar paralelos entre Jair Bolsonaro e Adolf Hitler. Nem se imagine que Bolsonaro tenha a dimensão de Hitler e o Brasil a dimensão da Alemanha reconstruída. Mas os paralelos são interessantes por mostrar um certo determinismo histórico que acompanha a ascensão dos ditadores.
Leia, antes, o “Xadrez do pacto de Bolsonaro com o Estado Profundo”.
Uma outra característica foi a montagem de um simulacro de guerra interna para mobilizar seguidores. A maneira com que o Partido Nazista se organizou foi em torno de um grupo paramilitar de nome Sturmabteilung (SAs), ou Tropa de Assalto, os chamados “camisas pardas”. Atuavam como seguranças de Hitler, espalhavam o terror e a violência pelas ruas, propunham revoluções culturais reiteradas e tinham a ambição de substituir as Forças Armadas.
Nada diferente dos discursos iniciais de Olavo de Carvalho, e do boneco de ventríloquo Eduardo Bolsonaro, levantando essa proposta no início do governo Bolsonaro. Em cima dessa estratégia, flexibilizaram a entrada e o controle de armamentos no país.
Dentro do sistema, a radicalização tem método, subordina-se à hierarquia, não permite voos independentes de lideranças desvairadas. Lá, houve conflitos entre o esquema militar e os terraplanistas do Partido Nazista. Aqui, os conflitos entre o Gabinete do Ódio e militares do governo.
Nos anos 70, conflitos entre a violência oficial de Ernesto Geisel e a perda de controle sobre o DOI-Codi, que levou ao afastamento do general Silvio Frota. Segundo os livros de Elio Gaspari, o próprio Geisel ordenava a execução dos adversários. Mas respeitando a hierarquia
Assim como Bolsonaro, o passo seguinte consistiu em aproximar-se do Estado Profundo alemão, as Forças Armadas, o poder econômico, a alta burocracia, para institucionalizar o poder. Hitler foi nomeado chanceler em janeiro de 1933. Em março, o parlamento aprovou a Lei Habilitantes, conferindo plenos poderes a Hitler.
Graças ao pacto com o Estado Profundo, dois meses depois o parlamento aprovou a Lei dos Habilitantes, concedendo plenos poderes a Hitler. Agora que estava montado em um pacto com as instituições, o passo seguinte seria se desfazer da anarquia dos primeiros aliados. E, aí, as instituições cooptadas ajudaram na degola.
Àquela altura, começavam a ser montadas as SSs, não mais grupos paramilitares civis, mas organizações militares de dentro do aparelho de Estado, juntando órgãos de segurança, a polícia secreta. O desmonte das SAs foi planejado por Heinrich Himler, o chefe das SS. Levantaram as ameaças dos radicais contra o regime, abriram inquérito para levantar os nomes dos principais radicais. Do mesmo modo que o STF em relação aos youtubers radicais. Em ambos os casos, em defesa da ordem.
Livres dos radicais amadores, a radicalização de Hitler foi internalizada, tornou-se institucionalizada, definindo o novo padrão do regime nazista. As SS instituíram o estado policial, organizando a política secreta, os órgãos de segurança e institucionalizando a violência nazista no aparelho de Estado.
Há a necessidade de combater esses processos antes que a minhoca se transforme em uma jiboia que devore todos os avanços democráticos