O procurador federal Deltan Dallagnol, que chefiava a Operação Lava Jato, tentou adiantar – sem sucesso – o lançamento do livro “Corrupção: Lava Jato e Mãos Limpas”, para que ele gerasse impactos nas eleições presidenciais de 2018, que correram sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tinha sido condenado e preso por meio da ação de Dallagnol e do ex-juiz Sergio Moro.
O livro é escrito por uma série de autores – um capítulo cada um – e tem entre eles os procuradores Deltan Dallagnol e Roberson Pozzobon e o ex-juiz Sergio Moro. O procurador que chefiava a Lava Jato tentou lançar o livro antes das eleições de outubro de 2018, mesmo que a editora que se dispusesse a publicar não fosse capaz de ler e aprovar tudo a tempo.
Ao final, isso não foi possível, já que, segundo uma das interlocutoras de Dallagnol afirmou no dia 18 de julho de 2018, quando nem todos os capítulos do livro já estavam prontos, “ninguém bacana (nenhuma editora) aceitou o livro sem ler”. A obra acabou por ser publicada em fevereiro de 2019.
É o que mostram os diálogos protocolados nesta quarta-feira (17) pela Defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no STF, entre Dallagnol, procuradores e policiais da Lava Jato e o ex-juiz Moro. Todas as conversas a que os advogados do petista tiveram acesso advêm da Polícia Federal, trata-se de material periciado pela Operação Spoofing, ao qual o MPF-PR teve acesso antes do que a defesa do ex-presidente.
De acordo com este material, no dia 18 de julho de 2018, o seguinte diálogo se deu entre Dallagnol e seus colegas de Lava Jato. Nele, o procurador busca saber o que o então juiz Moro tinha escrito em seu capítulo, “para não sermos repetivivos”.
A transcrição é de uma conversa entre Deltan Dallagnol e seu companheiro Roberson Pozzobon, também chamado de “Robito” com frequência nos diálogos até agora revelados. Nesse trecho, Deltan copia e cola, para Pozzobon, um trecho de conversa que travou com a organizadora do livro em questão, a economista Maria Cristina Pinotti.
16 JUL 18
(Início de trecho de conversa entre Dallagnol e Maria Cristina Pinotti, encaminhado a Roberson Pozzobon)
• 17:32:37 Deltan Cristina, qual a probabilidade de o livro sair antes das
eleições?
• 17:32:37 Sobre o que o Moro escreveu, pra não sermos tão repetitivos?
• 17:32:37 Cristina Eu diria que quase nula! Ninguém bacana aceitou o livro sem ler…
• 17:32:37 Deltan hummm
• 17:32:37 E qual a chance de circularmos o capítulo antes de publicar?
Queima ele?
• 17:32:37 Cristina Não perguntei ao Moro, Deltan… Acho que ele vai para uma linha
mais teorica, estilo dele, mas posso checar.
• 17:32:37 Minha primeira reação é que devia sair no livro…
(fim de trecho de conversa encaminhada entre Dallagnol e Cristina. Início de conversa entre Dallagnol e Pozzobon)
• 17:34:00 Roberson MPF Ela quer garantir pro livro
• 17:34:37 Deltan isso
• 17:34:55 queria aproveitar pras eleições
Desde que o ministro do STF Ricardo Lewandowisk tornou públicos os autos referentes à perícia da Polícia Federal nos diálogos apreendidos com um hacker – entre procuradores e policiais da Lava Jato e, em muitos casos, com a participação do ex-juiz Sergio Moro -, uma série de novas revelações sobre o modo de agir da Lava Jato têm vindo à tona.
Em uma delas, por exemplo, os procuradores comemoram o fato de o ex-juiz ter concedido mandados de busca e apreensão no processo do triplex antes mesmo que a Lava Jato tenha pedido. Em outra, Moro e Dallagnol conversam sobre manter um investigado preso por mais tempo para força-lo a assinar um acordo de delação premiada.