1) A decisão da segunda turma do STF pela suspeição de Moro, por tabela, fortalece a anulação das sentenças da Lava Jato de Curitiba contra Lula por parte do ministro Fachin. Embora juridicamente sejam questões distintas, acabaram imbricadas devido aos novos ventos da política.
2) Não é certo que a anulação vá ao plenário, em que pese Fachin ter encaminhado a questão para apreciação do conjunto dos ministros. Mas Gilmar Mendes alega que por razões regimentais o processo não pode ser retirado da segunda turma, onde começou a tramitar, e ser enviado ao plenário. E, como agora todos sabem, não é uma boa ideia trombar contra o ministro Gilmar.
3) Embora abalado por duas vitórias seguidas de Lula no Supremo, o antilulismo, dentro e fora do tribunal, não está morto e vai reagir.
4) É previsível uma forte pressão midiática e da bancada lavajatista no STF para que o plenário vote e derrube a anulação das sentenças. Vão tentar também rasgar o regimento do Supremo e forçar a mão para levar o plenário a reexaminar a decisão da suspeição, o que não será fácil de conseguir.
5) Aliás, o procurador-geral da República, Augusto Aras, já falou à imprensa sobre sua intenção de apresentar recurso com esse objetivo. O próprio presidente da corte, Luiz Fux, já aventou essa possibilidade.
6) Outro ponto a ser certamente explorado pela mídia comercial é o fato real de que a suspeição de Moro refere-se apenas ao processo do triplex. Globo e congêneres já estão chamando atenção de que a condenação de Lula também no caso do sítio o torna inelegível, desde que, é claro, venha a ser revertida a anulação das sentenças da 13ª Vara Federal de Curitiba.
7) Contudo, o contra-ataque dos lavajatistas de direita e de extrema-direita terá que se ver com um poderoso inimigo: a alteração de rota da conjuntura política.
8) O discurso poderoso do Lula logo na sequência da decisão de Fachin trincou os alicerces do establisment político e econômico do país. Parte inclusive dos conservadores sentiu o golpe e passou, no mínimo, a reconhecer o papel central do ex-presidente na luta contra o bolsonarismo. Sem falar no avassalador prestígio de Lula na cena internacional.
9) Lula vai falar de novo e, logo que a situação epidemiológica permitir, viajar pelo país fazendo costuras políticas e semeando esperança por toda parte.
10) O cenário político que permitiu a caçada e a prisão ilegal de Lula está sendo superado. A destruição da economia do país, a maior tragédia sanitária da nossa história e as seguidas ameaças de Bolsonaro à democracia tornam cada vez mais estreita a margem da burguesia para manter Lula alijado do jogo político.
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