Algum tempo de estrada acompanhando pesquisas eleitorais, sobre aprovação de governos ou quaisquer assuntos relacionados à política ou à economia, me levaram a receber seus resultados com frieza, tranquilidade e às vezes com ceticismo.
De pouco servem esses levantamentos de opinião pública, se não forem devidamente contextualizados politicamente, situados no tempo e no espaço, além de passarem pela análise da autoria e seus interesses imediatos e estratégicos.
Também vale destacar que, em geral, o bloco qualitativo de respostas, as tendências e as curvas de subida e descida valem mais do que a parte quantitativa da sondagem.
Isto posto, é preciso jogar luz e insistir na denúncia de que a pesquisa feita pelo Datafolha, às vésperas do STF analisar a suspeição do juiz Moro, se constitui em uma dos mais repugnantes capítulos da história das pesquisa no Brasil. Um verdadeiro monumento à empulhação.
Como se sabe, o levantamento, através de uma pergunta capciosa e cretina (“Você achou justa à época a sentença de Lula no processo do triplex?”) chegou à conclusão de que 57% dos brasileiros viam justiça no julgamento de Lula por parte de Moro.
Ou seja, um questionamento feito sob medida para induzir o entrevistado a ignorar todas as revelações escabrosas da Vaza Jato e da Operação Spoofing, que só vieram à tona depois da condenação de Lula.
O problema é que a manipulação grosseira passou relativamente em branco, ou pelo menos não mereceu o bombardeio necessário, devido justamente ao julgamento de Moro que o Grupo Folha tentou influenciar. Com justa razão, todos os holofotes se voltaram para a sessão do STF e seus desdobramentos.
Contudo, apropriadamente, neste domingo (28), a ombudsman da Folha, Flávia Lima, volta ao assunto e põe o dedo na ferida: “Leitores alegaram que a pesquisa extrapolou a política e promoveu um julgamento fora dos tribunais, baseada em uma cobertura acrítica da Lava Jato. Outros viram problemas na formulação da pergunta”.
E atenção para a resposta do diretor do Datafolha, Mauro Paulino, à ombudsman a respeito da inclusão do termo “à época”: “Ele foi incluído para situar o entrevistado de forma a não confundir com o julgamento atual do caso pelo STF. Trata-se de um recurso técnico para padronizar o entendimento da questão por todos os entrevistados.”
Ora, senhor Paulino, não custava ter sido um pouco mais criativo na defesa do indefensável. Não é difícil perceber que a alegada confusão temporal que o entrevistado poderia fazer teria sido definitivamente evitada com a inclusão de uma única pergunta sobre o conluio criminoso entre Moro e os procuradores de Curitiba.
Mas o instituto não a formulou porque o Grupo Folha ainda esperneia e joga suas últimas fichas para tentar manter Lula inelegível. Neste sábado (27) inclusive voltou à carga com uma matéria sem pé nem cabeça sobre hipotéticas coincidências de argumentos entre a defesa de Lula e a Lava Jato. O texto, de tão panfletário e pueril, acabou solenemente ignorado pelo mundo político.
E veja que coisa estranha: terão sido meros acasos a divulgação da pesquisa negativa para Lula e a retomada do julgamento sobre a suspeição de Moro no dia seguinte, ou o ministro Kássio Marques vazou para a Folha que liberaria seu voto?
Não sei, mas dado o histórico das pesquisas no Brasil, tenho todo direito de suspeitar. Rapidamente lembro de alguns casos ocorridos em passado recente:
1) A Folha participava ativamente do massacre e do jornalismo de guerra contra o governo Dilma durante a semana para, aos domingos, e com uma frequência atípica, publicar pesquisas dando conta do óbvio apoio da grande maioria da população ao impeachment.
2) Nas eleições em que os petistas Jaques Vagner e Rui Costa foram eleitos e reeleitos no primeiro turno para o governo da Bahia, as pesquisas de véspera do Datafolha e Ibope cravavam as vitórias de seus adversários no primeiro turno.
3) O Instituto Paraná Pesquisas, a uma semana do segundo turno de 2014 entre Dilma e Aécio, divulgou pesquisa na qual Aécio batia Dilma por 60% X 40%.