Em 2000, eu tive aula com Alfredo Bosi na disciplina Literatura Brasileira. Sempre atencioso com os alunos, com sua fala introspectiva, tínhamos de sentar na frente para acompanhar muito atentos uma bagagem de informações que ele nos passava em aula. O tema foi o romance de 30 e ele nos apresentou um panorama de autores e obras que eu desconhecia completamente. Um desses romances me marcou de modo significativo: Fogo Morto.
Uma vez, ele me convidou para ir à sua sala no Instituto dos Estudos Avançados da USP. Nas primeiras vezes, conversávamos sobre o trabalho da disciplina. A visita virou rotina e conversávamos sobre vários assuntos, ele me falava de alguns romancistas ou de algum tema político. Muitas vezes, nossas conversas transformavam-se em entrevista, pois, ao saber que eu era assembleiano, ele ficou interessado em conhecer essa vivência e eu levava horas respondendo suas perguntas. Em uma dessas conversas, me lembro dele contar que foi à Paris e tentou fazer uma visita a Roland Barthes, mas eles eram tão burocráticos com essa coisa de visita que acabou não dando certo e Bosi desistiu.
Hoje a notícia da morte de Alfredo Bosi por Covid é uma tristeza e um insulto. Já perdemos gente demais e, pelo visto, continuaremos a perder. Saber que essa morte poderia ter sido evitada a faz doer mais ainda em nós.
Dário Neto – Doutor em Literatura Brasileira, professor adjunto de Literatura Brasileira na UFMS – Campus do Pantanal e autor do livro Candelabro.