No primeiro turno das eleições de 2002, Lula obteve 46,44% dos votos válidos. Já em 2006, a vitória ainda no primeiro turno esteve mais próxima, pois o então candidato à reeleição alcançou 48,61% dos votos.
Essas lembranças são importantes para realçar o ponto a meu ver mais positivo, e pouco explorado pelos analistas, para o ex-presidente, na pesquisa do Datafolha divulgada esta semana: os 48% dos votos válidos detectados pelo instituto revelam a reconexão de Lula com a integralidade de sua base de apoio político e eleitoral na sociedade brasileira.
A constatação, real porque lastreada por números, constitui-se em um fenômeno político extraordinário, certamente objeto de estudo de historiadores e cientistas políticos do futuro. Nenhum outro político no Brasil e no mundo teria sobrevivido ao massacre judicial-midiático sofrido por Lula, especialmente nos últimos cinco anos.
Mais do que esmagar o líder popular, o lawfare visava aniquilar o ser humano Lula e sua família, além de destruir seu partido e seu instituto, ou seja, salgar a terra para que por muitos anos o legado de Lula fosse confundido com práticas criminosas.
Os linchadores responsáveis por dezenas de capas da Veja, recorde de tempo de ataques no Jornal Nacional sem direito à defesa e pela linha editorial difamatória dos jornalões só não contavam com o lugar cativo ocupado por Lula no coração do povo. Aqui reside a grande falha da máquina de moer gente e reputações, montada a partir do conluio sistema de justiça-mídia que culminou com a prisão de Lula por 580 dias.
Estratégia concebida com requintes máximos de crueldade, pensou-se em tudo. Até em abrir contra Lula uma infinidade processos para levar as pessoas a, no mínimo, ficarem com uma pulga atrás da orelha, coisa do tipo: “Bem, se ele é acusado de tantos crimes, alguma culpa deve ter.”
Outro artifício largamente usado por Folha, Globo e Estadão era a cada citação de Lula em seu noticiário abrir um longo parênteses para rememorar um por um os processos aos quais o ex-presidente respondia, além de destacar suas condenações.
Nenhuma linha, evidentemente, para um fato de grande significado jornalístico: os mais renomados juristas do país e do exterior sempre consideraram absolutamente frágeis e inconsistentes as acusações contra Lula, quando não simplesmente fraudulentas. Também era escondida a sete chaves o alerta de muitos especialistas em direito de que o teor das imputações não seria aceito pelos judiciários de nenhum país civilizado.
Para tornar o quadro ainda mais grave e preocupante para o presente e o futuro de Lula, a perseguição insidiosa acabou surtindo efeito em alguns setores progressistas.
Afora os que viram na débâcle de Lula uma oportunidade de ouro para ocupar o lugar de protagonismo do PT na esquerda, não era raro ouvir que Lula tinha que se aposentar, que sua liderança nacional se esgotara e que ele podia aspirar, no máximo, a uma saída honrosa de cena.
Depois de muito tempo de estrada, vejo pesquisas como retrato do momento e indicadoras de tendências atuais. Por isso, nem solto foguete quando elas são favoráveis nem abaixo a crista diante de resultados negativos. Tudo pode sempre mudar. Mas essa pesquisa do Datafolha, no entanto, traz à tona algo definitivo: só quem pode colocar um ponto final na carreira de Lula é o povo brasileiro.
Só que pelo visto ele se nega a fazê-lo.