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Na pandemia, traficantes de pessoas ampliaram seus "negócios" on-line

Mai 17, 2021

Por Leandro Barbosa, no Metrópoles                                                                                             

 

Foto: Agência Brasil

São Paulo – O Brasil foi surpreendido com a Operação Harém, deflagrada em abril pela Polícia Federal, em Sorocaba (SP). A ação desmantelou uma quadrilha acusada de organizar um esquema internacional de tráfico de mulheres. A investigação, que teve início em 2019, constatou que mais de 100 brasileiras foram vítimas. Elas eram levadas para diversos países e variadas regiões, como Estados Unidos, Austrália, Singapura, China, Nova Zelândia e Bolívia, além de várias nações da Europa e do Oriente Médio. Esse fluxo entre países é uma das principais características do tráfico de pessoas, mas isso gradativamente tem sido alterado, devido às limitações impostas pela pandemia.

 
Uma vez que fronteiras foram fechadas e houve a imposição de diversas outras restrições de mobilidade para conter o coronavírus, as organizações identificaram que o ciberespaço poderia facilitar a atuação dos traficantes de pessoas. Antes, as quadrilhas precisavam exercer controle físico e monopólio sobre bairros específicos de cidades, e, consequentemente, criar uma rede de membros para gerenciar os seus negócios. Agora, on-line, eles não necessitam de uma grande infraestrutura física e contam com mão de obra reduzida.
 

Segundo a ONU, um traficante, trabalhando sozinho, consegue explorar sexualmente e conectar uma vítima a mais de 100 compradores de sexo, em um período de 60 dias, usando propaganda on-line. Para isso, os criminosos se utilizam do que tem sido chamado de “casas de cibersexo”. Um canal on-line, criptografado, onde realizam streaming de sexo ao vivo e disponibilizam os meios de acesso aos usuários pagantes.

Para a promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul e autora do livro Perversão, Pornografia e Sexualidade: Reflexos No Direito Criminal Informático, Ana Lara Camargo de Castro, a internet alterou a sexualidade humana e, com isso, contribuiu para o avanço deste tipo de fenômeno em plataformas on-line.

“A internet mudou o perfil de desejo dentro das relações humanas. Ela causa um efeito no cérebro, similar aos efeitos de um vício. E as imagens, disponibilizadas 24h por dia, precisam ser alteradas, porque deixam de bastar para aquele consumidor. E isso tem um grande impacto na maneira como ascenderam as organizações criminosas nas plataformas digitais”, explicou a promotora.

Duas formas diferentes de estratégias de recrutamento foram identificadas: o recrutamento ativo e passivo. Recrutamento ativo assemelha-se à técnica de “pesca com anzol” e envolve criminosos publicando anúncios falsos em portais de empregos confiáveis ​​e mercados de mídia social.

O recrutamento passivo assemelha-se à “pesca com rede”, e é menos detectável para a aplicação da lei. Os aliciadores vasculham a internet e as redes sociais em busca de responder a anúncios publicados por candidatos à procura de emprego no exterior. Aqueles que são enganados só descobrem o golpe quando chegam ao país de destino.

As redes sociais se tornaram a mina de ouro da máfia. Por meio de sites como Facebook, Instagram, Twitter e aplicativos de namoro como o Tinder, os criminosos buscam entender as vulnerabilidades das pessoas. Algumas características observadas são: uso e abuso de drogas, desejo de fuga de alguma situação ou lugar, e conflitos familiares.

Além disso, a exposição de dados em plataformas digitais também garante aos criminosos o acesso a fotos, nível educacional, laços familiares, status econômico, cidade e rede de amigos, entre outros dados. Com isso, elaboram estratégias de aliciamento e juntam informações que serão usadas para pressionar as vítimas, como ameaça de morte a pessoas próximas, por exemplo.

As organizações indicaram que o uso de diferentes plataformas pode estar relacionado com o perfil etário das vítimas. Cada vez mais, crianças e adolescentes estão se inserindo no meio digital. Com isso, eles são frequentemente “cortejados” por traficantes, em redes de mídia social, onde os jovens estão suscetíveis a manobras enganosas na busca por aceitação, atenção ou amizade.

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