O jornalista Jamil Chade se tornou uma referência no acompanhamento da diplomacia e política internacional, e vem analisando a forma como a imagem brasileira mudou no curto prazo. E, basicamente, o Brasil deixou de ser um pária internacional para ser visto como uma ameaça.
Apesar do desmonte das instituições internacionais, iniciado pelo então presidente dos Estados Unidos Donald Trump e que contou com a cumplicidade de Jair Bolsonaro, o jornalista destaca outro ponto: a criação de uma imagem do país de ser um país mais do que complicado, irresponsável.
Embora o Brasil hoje seja praticamente irrelevante no cenário internacional, Jamil Chade afirma que o país tem um peso gigantesco na América do Sul e, por isso, a palavra pária não é mais a realidade para o que o país representa. “Era a realidade quando o governo é inaugurado, quando simplesmente rompe consensos absolutamente estabelecidos, ele se transforma em um pária. Mas depois do pária ele ganhou um novo patamar, que é esse patamar muito complicado”.
Política externa é política pública
Quando diversas instituições internacionais – como OCDE, OMS e Unesco, dentre outras – estabelecendo um consenso de que a situação brasileira é inaceitável, essa opinião se transforma em prejuízos ou ganhos econômicos.
“Não é apenas ‘ah, eu quero ser brasileiro e andar de cabeça erguida quando eu for para Paris da próxima vez’. Não é isso. Política externa não é isso. Política externa é política pública. Política externa não é embaixador fazendo brinde com champanhe. Política externa é um braço do acesso à vacina, é um braço do acesso a crédito, é um braço do desenvolvimento social de um país”, lembra Chade. “Então, quando você não tem esse braço, porque esse braço foi cortado por você mesmo, é uma parte da política pública que é minada”.
“Já perdemos essa guerra, (os brasileiros) já foram derrotados. Por isso, a sanção ela não é só no Conselho de Segurança e depois no voto dos membros permanentes. A sanção é da comunidade internacional, é de cada garoto que vai ao supermercado comprar o churrasco dele do fim de semana com euro, é um voto, e aquele voto ele fala ‘não, carne brasileira eu não compro’. Então, para mim, essa é a nova realidade”.