Em oito atos, cronologicamente de frente para trás:
1) O Tribunal Superior Eleitoral, presidido pelo ministro Barroso, divulga nota dura apontando como crime de responsabilidade a ameaça golpista de Bolsonaro de não realizar eleições, como se ele tivesse poderes para tamanha afronta à Constituição. Barroso reitera que a eleição não corre o menor risco e o tribunal, mais uma vez, cobra de Bolsonaro a apresentação de provas de fraudes na votação eletrônica. Os xingamentos ao presidente do TSE repercutem da pior maneira possível.
2) Pressionado pelos seus pares, até o senador Rodrigo Pacheco, o bolsonarista enrustido que preside o Senado, também se manifesta em defesa do regime democrático e das prerrogativas constitucionais do Congresso Nacional.
3) Pesquisa Datafolha feita de forma presencial e ouvindo mais de 2 mil pessoas em todo o país confirma o derretimento da imagem de Bolsonaro e de seu governo, a ponto de nada menos do que 59% dos brasileiros afirmarem que não votariam nele de jeito nenhum. Chama atenção a derrubada do último bastião bolsonarista, a farsa de não envolvimento com corrupção. Além de incompetente e falso, um número expressivo de pessoas considera Bolsonaro desonesto. Além de Lula ter ampliado sua vantagem sobre o capitão da reserva nas simulações para 2022, tanto no primeiro como no segundo turno, a pesquisa mostra que Bolsonaro em um eventual segundo turno perderia também para Dória e Ciro.
4) As ameaças ao Congresso Nacional e à democracia feitas pelo ministro da Defesa e pelos comandantes militares, insatisfeitos com o avanço das investigações da CPI que chegou aos fardados do Ministério da Saúde, tiveram forte repúdio da sociedade. Dos jornalistas da mídia comercial às entidades da sociedade civil, passando pelos políticos, a condenação ao arreganho autoritário fez o tiro da caserna sair pela culatra.
5) Igualmente criticada e denunciada como uma tentativa das forças armadas de intimidar o meio político foi a entrevista do ministro da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, em O Globo. Mais golpista impossível, o brigadeiro disse que “as forças armadas têm base legal para agir” e acusou a oposição de tentar envolver o governo em corrupção, ou seja, fez juízo de valor sobre questões de ordem política, o que é vedado a uma instituição de Estado, e não de governo, como são as forças armadas.
6) Talvez tenha sido a semana em que Bolsonaro mais lançou mão de seu linguajar chulo, mal educado e grosseiro para reagir ao cerco que se fecha contra ele. Nunca é demais repetir que a forma como Bolsonaro se expressa, típica de pessoas da mais baixa extração como ele, é uma ofensa inaceitável à dignidade do cargo que ocupa. Mas, quando diz que “caga para a CPI” e que não responderá à carta dos senadores, ele revela ter conhecimento do que boa parte dos bastidores de Brasília já sabe: ele foi gravado pelos irmãos Miranda e não tem como defender seu líder no Congresso, Ricardo Barros, sob pena de ser desmentido por um áudio bombástico e de consequências imprevisíveis.
7) A CPI do Genocídio andou várias casas esta semana, levantando o véu da roubalheira no Ministério da Saúde, apropriadamente já chamada de “vacinogate”. Se há algo sobre o qual há mais dúvidas é quanto à atuação de esquemas criminosos concorrentes no âmbito do ministério, enquanto mais de meio milhão de brasileiros perdiam a vida.
8) Pela terceira vez, multidões tomam as ruas de mais de 400 municípios do país para exigir vacina no braço, comida no prato e Fora Bolsonaro. Em 30 cidades do exterior também aconteceram protestos. A péssima notícia para Bolsonaro é que é só o começo, pois a campanha liderada pela esquerda brasileira não para de crescer.