Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
As ameaças da “reforma política” são muitas.
Começa com o famigerado “distritão”, que aponta para a destruição dos partidos. Agora, a relatora incluiu uma bizarra cláusula de barreira vinculada ao distritão, de 25% do quociente eleitoral.
Em paralelo, há a proibição de divulgação de pesquisas de intenção de voto. Há problemas nas pesquisas e por vezes elas se prestam a manipulação, por isso é necessário que os institutos sejam auditáveis e os casos de fraude, uma vez constatados, severamente punidos.
Mas simplesmente proibir é abrir a porteira para as fake news. Se com pesquisas reais, identificáveis, elas já campeiam, imagina sem.
O pior de tudo, porém, é a bomba que Renata Abreu inventou agora: fim do segundo turno, substituído por voto múltiplo transferível.
Tipo: meu candidato é X. Se não for X, prefiro Y. Se não for X nem Y, prefiro Z. E assim por diante.
Muito bonito. Mas exige um grau de informação e mesmo de sofisticação política que está longe da maior parte do eleitorado.
O segundo turno é fundamental também por concentrar a disputa e permitir que os finalistas, destacados da massa de candidatos do primeiro turno, se tornem mais visíveis, mais expostos, obrigados a maior debate.
A ideia é péssima. Pior ainda é o fato de que a relatora simplesmente tira uma ideia de algum lugar, na última hora, e a enfia no parecer.
É um retrato da “reforma política” em discussão no Congresso: um monte de regras que não receberam reflexão adequada, empilhadas ao sabor de palpites e interesses de momento, carentes de debate aprofundado.
E, claro, a reforma política é, como sempre, reduzida a uma reforma do sistema eleitoral. Como se os nossos principais problemas estivessem nas regras do cálculo que transforma votos em posições de poder. E não na influência do dinheiro, dos meios de comunicação, das milícias, dos pastores etc.